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Hair: uma renovação importante na arte dos musicais

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Hair: filme dirigido por Milos Forman ANUNCIANDO A POTÊNCIA ARTÍSTICA E MUSICAL DA ERA DE AQUÁRIO Um bando de hippies praticando paz e amor, enquanto festejam o hedonismo, bradam contra a guerra, repudiam o conservadorismo e pregam a contracultura. Parece antiquado e datado? Nas mãos de Miloš Forman, não! Em Hair , filme de 1979, ele faz uma adaptação para o cinema de um musical de sucesso na Broadway e extrai dele uma enorme potência artística e musical. O roteiro de Michael Weller cria um enredo e direciona o fluxo dramático da cantoria, trabalhando os personagens com mais detalhes.           Apenas privilegiados tiveram a oportunidade de assistir ao musical Hair , escrito por James Rado e Gerome Ragni, que estreou na Broadway em 1968. Mas qualquer um de nós tem acesso ao filme. Sua adaptação para o cinema não se limitou ao registro das canções marcantes e inesquecíveis, ou do peculiar visual da tribo hippie. O diretor soube desenvolver os personagens e criou uma trama envolvente. Se

15h17: Trem Para Paris: um história real

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15h17: Trem Para Paris: filme de Clint Eastwood PESSOAS, PERSONAGENS, ATORES... TODOS MISTURADOS NA MESMA DRAMATIZAÇÃO Imagine que você está envolvido em uma reconstituição policial: depois de ouvir as testemunhas, colher os depoimentos dos criminosos e estabelecer as ações que afetaram as vítimas, procura encenar os fatos de acordo com as diferentes versões. Coloca todos de volta na cena do crime e revive os acontecimentos na presença de peritos e autoridades, com o objetivo é descartar as versões improváveis e ficar com a única que, de acordo com as evidências, reflete a verdade. Você não está interessado em expressar significados ou extrair relevância artística da encenação – muito embora isso seja inerente a qualquer interação entre seres humanos. Tudo o que você quer é realizar um procedimento burocrático.           Eis aqui um modelo narrativo ao qual o grande público jamais tem acesso – fica restrito às esferas judiciais e se traz alguma função estética, apenas os advogados, juí

O Dilema das Redes: propaganda disfarçada de documentário

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Dilema das Redes: filme dirigido por Jeff Orlowsky NÃO PASSA DE UMA PEÇA DE PROPAGANDA A FAVOR DA REGULAMENTAÇÃO DAS REDES SOCIAIS As grandes corporações da mídia perderam poder com o advento da internet. O que fazem agora? Dizem que as redes sociais são “malvadas”, para inventar meios de controlá-las. Querem que tudo volte a ser como antes: apenas o consórcio formado pela imprensa, a grande mídia e os políticos fazendo a cabeça do povo. O Dilema das Redes , filme de 2020 dirigido por Jeff Orlowski é uma peça de propaganda arquitetada para acabar com a liberdade na internet.           A mídia manipulando jovens para influenciar seus hábitos não é novidade. Desde que Gutemberg inventou a imprensa jamais tivemos paz. A diferença é que agora há uma inteligência artificial capaz de refinamentos inimagináveis. Somos bombardeados por mensagens sedutoras? Sim! Mas temos uma liberdade de escolha sem paralelos com outras épocas. Lemos, assistimos, escutamos e interagimos com a informação de for

Tempo de Matar: uma história onde o racismo interfere nos julgamentos

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Tempo de Matar: filme de Joel Schumacher CINEMA DENUNCIANDO PRECONCEITO RACIAL, DILEMAS MORAIS E LABIRINTOS JURÍDICOS  O escritor John Grisham ficou famoso por seus romances de tribunal. Já vendeu mais de 300 milhões de exemplares ao redor do mundo e se tornou o número um no segmento dos thrillers de tribunal. Nove dos seus romances foram adaptados para o cinema, mas o primeiro que escreveu – em 1989, apenas três anos depois de se formar advogado – foi Tempo de Matar , que chegou às telas em 1996 dirigido por Joel Schumacher. O autor já havia visto três dos seus títulos virarem filme: A Firma , O Dossiê Pelicano e O Cliente , mas dessa vez decidiu interferir mais diretamente na adaptação. Envolveu-se como produtor, convocou Joel Schumacher para a direção e tratou de impor a concepção de filme que havia imaginado quando concebeu a história.           Tempo de Matar traz uma história bem costurada. Jake Tyler Brigance (Matthew McConaughey) é um advogado trabalhando no estado do Mississ

O Impossível: a história real da família de María Belón

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O Impossível: filme de Juan Antonio Bayona REALISMO NÃO BASTA, É PRECISO EXTRAIR EMOÇÃO Quando a costa da Tailândia foi arrasada por um tsunami, no Natal de 2004, as imagens da destruição entulharam nossas televisões e inundaram de tristeza as comemorações de final de ano em todo o mundo. Foram mais de 230 mil vítimas fatais e uma quantidade inimaginável de feridos – física e emocionalmente. As narrativas do desastre ocuparam espaço em toda a mídia, sempre numa abordagem jornalística. Reportagens, mesmo as que elevam o tom para entrar na disputa pela audiência, costumam priorizar o conteúdo informativo, mostrando respeito para com os que sofreram perdas. Mas o cinema, com sua vocação para a dramatização, está mais interessado na emoção, na dor, no sofrimento... Quando decidi assistir ao filme O Impossível , dirigido em 2012 pelo espanhol Juan Antonio Bayona, tive receio de tropeçar em mais uma produção apelativa do gênero catástrofe, recheada de efeitos especiais realistas, planejados

Se7en - Os Sete Crimes Capitais: um filme forte com final surpreendente

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Seven- Os Sete Crimes Capitais: filme de David Fincher UM THRILLER ONDE AS VÍTIMAS SÃO PECADORES E OS POLICIAIS, ATORMENTADOS Quando um velho à beira da aposentadoria reclama da decadência moral que se abateu sobre a sociedade, os mais jovens tendem a pensar que se trata apenas disso mesmo: da velhice que se abraça com a rabugice, para implicar com os novos comportamentos que a modernidade vai moldando. O erro de quem acusa é a generalização – a decadência moral é real, mas desde sempre acontece em nichos. O erro dos que se defendem é o desdém – abrem mão de certas regras de conduta para tolerar um novo comportamento, só porque ele é... novo.           Agora, quando um jovem reclama da decadência moral, aí já é outra história! O jovem a quem me refiro é Andrew Kevin Walker, o roteirista que escreveu Se7en: Os Sete Crimes Capitais , filme de 1995 dirigido por David Fincher. Trata-se de um dos melhores thrillers policiais dos anos 90, que chegou aos cinemas trazendo um clima de mistério

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

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Menina de Ouro: filme de Clint Eastwood QUEM FORNECE MATÉRIA-PRIMA PARA OS BONS DIRETORES? A VIDA! Em termos numéricos, o mundo do boxe é para poucos. O mundo do boxe feminino, então, é para muito poucos. Agora, pense num filme que visita esse mundo árido e flagra seus habitantes nos momentos de maior solidão, desilusão, sofrimento e tristeza. Isso afugenta o público e limita ainda mais o tamanho da audiência. Entretanto, Menina de Ouro , filme de 2004 dirigido por Clint Eastwood, conseguiu o improvável: conquistou prêmios, saiu-se bem nas bilheterias e acabou se tornando um dos melhores filmes do diretor. O motivo? É uma história fictícia, mas verossímil, com sólidos elementos dramáticos e muito bem focada nos seus personagens.           O tema principal de Menina de Ouro é a busca por uma segunda chance na vida. É sobre como as pessoas se agarram às oportunidades de um novo recomeço, mas não estão preparadas para as desilusões, ainda que elas sejam prováveis. Todos os personagens se

O Homem Elefante: um drama tocante, que grita uma mensagem humanista

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O Homem Elefante: filme dirigido por David Lynch REVIRANDO SENTIMENTOS VERDADEIROS E TRANSFORMADORES Para ilustrar minha crônica sobre O Homem Elefante , filme de 1980 dirigido por David Lynch, passei um bom tempo buscando uma foto promocional na internet. Encontrei várias. A maioria exibindo o ator John Hurt, oculto atrás da máscara usada para caracterizar as horríveis deformidades que condenaram seu personagem a uma vida de dor e sofrimento. São imagens de uma tristeza gigantesca, de cortar o coração. Logo percebi que tais imagens chocantes nada tinham de promocionais. Ao contrário, serviriam para afugentar os leitores mais sensíveis. Então escolhi usar uma foto onde John Merrick está oculto por um capuz desengonçado – na verdade, um saco de estopa com um único furo, para o coitado poder olhar por onde anda!           De repente, diante da minha escolha, percebi que estava vivendo o mesmo drama experimentado pelos realizadores do filme. A imagem que escolhi era a mesma utilizada em t

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