15h17: Trem Para Paris: um história real

Cena do filme 15h17: Trem Para Paris
15h17: Trem Para Paris: filme de Clint Eastwood

PESSOAS, PERSONAGENS, ATORES... TODOS MISTURADOS NA MESMA DRAMATIZAÇÃO

Imagine que você está envolvido em uma reconstituição policial: depois de ouvir as testemunhas, colher os depoimentos dos criminosos e estabelecer as ações que afetaram as vítimas, procura encenar os fatos de acordo com as diferentes versões. Coloca todos de volta na cena do crime e revive os acontecimentos na presença de peritos e autoridades, com o objetivo é descartar as versões improváveis e ficar com a única que, de acordo com as evidências, reflete a verdade. Você não está interessado em expressar significados ou extrair relevância artística da encenação – muito embora isso seja inerente a qualquer interação entre seres humanos. Tudo o que você quer é realizar um procedimento burocrático.
        Eis aqui um modelo narrativo ao qual o grande público jamais tem acesso – fica restrito às esferas judiciais e se traz alguma função estética, apenas os advogados, juízes e policiais podem apreciar. Não sei se Clint Eastwood pensou em tudo isso quando filmou 15h17: Trem para Paris em 2018, mas foi exatamente o que acabou realizando. Sua ideia de pôr os três rapazes que protagonizaram a história verdadeira do atentado frustrado em Amsterdã, para interpretar a si mesmos numa produção hollywoodiana, parece uma tentativa de recriar a cena do crime. Seu filme virou um híbrido de documentário e drama e acabou ficando com cara de procedimento burocrático.
        O espectador não assiste a atores dramatizando os acontecimentos. O que vê são os três rapazes em carne osso, reconstituindo a história incrível que viveram. Cientes disso, podemos entender as limitações na dramaturgia e ficar com a impressão de estar muito mais próximos dos acontecimentos reais, quando os três dominaram um terrorista armado até os dentes e impediram um verdadeiro massacre. A história renderia um ótimo documentário, ou um ótimo thriller, mas ao invés disso, Clint Eastwood optou pelo experimentalismo.
        15h17: Trem para Paris, mostra como Spencer Stone, Alek Skarlatos e Anthony Sadler, se tornaram grandes amigos ainda crianças, quando frequentavam a mesma escola. Anos depois, Spencer ingressa no Corpo de Fuzileiros Navais e acaba destacado para atuar numa base europeia. Alek entrou para o exército, foi servir no Afeganistão e, de licença, resolve encontrar a namorada na Europa. Anthony, estudante universitário, também sai de férias para a Europa. Os três decidem se encontrar na Alemanha e vão conhecer Amsterdã. De lá, resolvem ir para Paris. Quando pegam o trem, não passam de três jovens americanos comuns, mas diante da iminência de um massacre terrorista, se agigantam e realizam um notável ato heroico.
        A decisão surpreendente de Clint Eastwood de não usar atores profissionais, em grande medida, tirou a força dramática dessa história eletrizante. O filme é baseado no livro The 15:17 to Paris: The True Story of a Terrorist, a Train, and Three American Heroes escrito por Jeffrey E. Stern e pelos três rapazes, Spencer Stone, Anthony Sadler e Alek Skarlatos. Quem escreveu a versão para as telas foi a roteirista iniciante Dorothy Blyskal, que havia trabalhado com Clint Eastwood como assistente de produção no filme Sully – O Herói do Rio Hudson. Três semanas antes do início das filmagens, o diretor veio com a decisão de escalar os três protagonistas reais da história e a roteirista viu sua adaptação de um drama ser transmutada para uma espécie híbrida de realidade, ficção, documentário e dramatização.
        Os três rapazes podem ser heróis, mas não são atores. E para complicar, Clint Eastwood também colocou nos sets vários outros protagonistas reais, como Mark Moogalian – o homem ferido por um tiro durante o atentado – vários funcionários do trem, policiais e os socorristas que atenderam a ocorrência. Deve ter sido um reencontro catártico!
        Com 15h17: Trem para Paris Clint Eastwood de novo vem para nos contar uma boa história, só que dessa vez decidiu experimentar algo novo. Normal para alguém com quase 90 anos à época, mas em plena forma física e artística! É difícil segurar o ímpeto juvenil desse grande diretor!

Resenha crítica do filme 15h17: Trem Para Paris

Data de produção: 2018
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Dorothy Blyskal
Elenco: Spencer Stone, Anthony Sadler, Alek Skarlatos, Mark Moogalian, Isabelle Risacher Moogalian, Judy Greer, Jenna Fischer, Ray Corasani, Chris Norman, P. J. Byrne, Tony Hale, Thomas Lennon, Jaleel White, Vernon Dobtcheff e Matthew Barnes

Comentários

Confira também:

Tempestade Infinita: drama real de resiliência e superação

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Siga a Crônica de Cinema