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Invictus: uma história incrível, que até parece ficção

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Invictus: filme dirigido por Direção: Clint Eastwood AQUI, O ATOR QUE SE CONFUNDE COM O PERSONAGEM Quando Nelson Mandela morreu, em 2013, um comerciante indiano da cidade de Coimbatore fez questão de homenageá-lo. Mandou instalar um painel de publicidade com uma mensagem edificante, ilustrada com uma foto de... Morgan Freeman! A gafe correu o mundo e serviu para demonstrar a competência do ator ao interpretar o ex-presidente da África do Sul no filme Invictus , realizado em 2009 por Clint Eastwood.           Mais uma vez o diretor americano mostrou que tem faro apurado para as boas histórias. Essa lhe chegou às mãos pelo próprio Morgan Freeman. O ator há muito nutria o desejo de interpretar Mandela, de quem se tornou amigo pessoal. Encontrou-se diversas vezes com o líder político e estudou seus gestos e modo de falar. Quando conheceu John Carlin, autor do livro Playing the Enemy: Nelson Mandela and the Game that Made a Nation, Freeman apresentou a Mandela a ideia de transformá-lo em u

A Queda! As Últimas Horas de Hitler: um ditador acuado em seu bunker

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A Queda! As Últimas Horas de Hitler:filme dirigido por Oliver Hirschbielgel O SER HUMANO REFLETIDO EM SEUS DETALHES MAIS SÓRDIDOS Engana-se quem acredita que o mal se apresenta horrendo, repugnante, com feições monstruosas... Nada disso! Ele se mostra afável, sedutor, carismático e inspirador. É assim que consegue alcançar seus objetivos. O Hitler que vemos em A Queda! As Últimas Horas de Hitler , filme de 2004 dirigido por Oliver Hirschbiegel, é aquele que já deixou cair a máscara, mas vez ou outra se lembra de colocá-la. É aquele que se enfurnou no seu bunker, cercado de capangas, mas rosna feroz à espera do fim. Chafurdando em podridão, ainda se nega a enxergar sua condição humana. Continua posando de divindade!          O filme  A Queda! As Últimas Horas de Hitler é triste e pesado. Os acontecimentos que narra estão numa página que gostamos de arrancar dos livros de história, mas se fizermos isso, corremos o risco de encontrá-los escritos novamente, mais adiante. Talvez por isso o

Gran Torino: um filme sobre a disposição de aprender

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Gran Torino: filme dirigido por Clint Eastwood PARA QUE SERVE UM FILME SOBRE A INTOLERÂNCIA? PARA MOSTRAR O VALOR DA TOLERÂNCIA, ORA! – Gran Torino é um filme violento? – perguntou Ludy, insinuando que não estava disposta a assistir a tiros e pancadarias.            – Ainda não sei  – respondi. –  É dirigido e estrelado pelo Clint Eastwood e na foto da capa ele parece um Dirty Harry envelhecido. Acho que vai ter tiros e pancadaria!          M inha mulher hesitou, mas acabou convencida quando lembrei que o diretor era o mesmo que realizou o excelente  Os Imperdoáveis . Ela concordou em assistir e não se arrependeu!           A primeira coisa a ser dita sobre o filme Gran Torino é que estava redondamente enganado: Walt Kowalski, personagem que Clint Eastwood interpreta nesse filme de 2008, não tem nada a ver com Dirty Harry. Trata-se de um ex-combatente da Guerra da Coréia que se aposentou como trabalhador da Ford. Acaba de enviuvar e está mais interessado em viver sozinho os anos que

A Vida Dos Outros: o estado espionando seus cidadãos

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A Vida dos Outros: Florian Henckel von Donnersmarck QUANDO UMA SONATA PARA PIANO TOCA O CORAÇÃO DE UM HOMEM BOM Logo de início somos apresentados a Gerd Wiesler, agente da polícia política da Alemanha Oriental. Bastam poucas cenas para concluir: trata-se de um reles burocrata, que exerce com meticulosa dedicação o infame ofício de bisbilhotar a privacidade alheia para proteger o estado. Um homem menor, esmagado pelo peso da própria mediocridade. Um infeliz, que se submete a vigiar a vida dos outros como quem inspeciona frangos na esteira de um frigorífico.             Ocorre que Wiesler é destacado para vigiar o escritor Georg Dreyman, uma celebridade da cena cultural berlinense, que goza das benesses do partido. Sua missão é descobrir algo que possa comprometer o dramaturgo e sua namorada, a atriz Christa-Maria Sieland. As verdades que ele escuta vão de intrigas amorosas a interesses particulares sendo atendidos pela dispendiosa máquina estatal. Mas o espectador que espera assistir a

O Céu da Meia-noite: no final, a inevitável catástrofe global

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O Céu da Meia-noite: filme dirigido por George Clooney UM FILME DOIS EM UM: METADE INTIMISTA, METADE AVENTURA ESPACIAL O cinema é uma viagem! A ação que nos prende à tela também leva a divagações, traçando uma imprevisível trilha de livre associações. Foi o que aconteceu comigo a certa altura de O Céu da Meia-noite , filme de 2020 dirigido e estrelado por George Clooney. Apesar da sua longa barba grisalha imperando em cena, lembrei dele vivendo o psiquiatra Chris Kelvin, que investiga bizarrices numa estação espacial em Solaris , filme de 2002 escrito e dirigido por Steven Soderbergh. É bom lembrar que esse foi um remake do clássico Solaris , de 1972, dirigido por Andrei Tarkovski – um dos melhores filmes de ficção científica já realizados.           O clima de confinamento e a esmagadora solidão que preenche a estação espacial que serve de cenário para o filme de Tarkovski são os mesmos que sufocam o Doutor Augustine na estação polar de O Céu da Meia-noite . George Clooney talvez tenh

Mussum, Keanu Reeves e os Beatles: uma combinação inusitada

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Submarino Amarelo: filme dirigido por George Dunning SARGENT PEPPER E SUA BANDA ACABAM COM QUALQUER PANDEMIA DE TRISTEZA Alguém aí anotou a placa do ano que furou o sinal, atropelou nossos planos e passou por cima das nossas rotinas? Como diria o Mussum, Keanu Reeves! Começamos 2020, ano em que eclodiu a pandemia do Coronavirus, ambicionando prosperar, mas tivemos que nos contentar em apenas sobreviver. 2021, 2022 e 2023 não foram diferentes. O que esperar de 2024?           A politicagem berrou o ano inteiro, desafinada e estridente, com uma insistência de enlouquecer. Falsas dicotomias surgiram a cada dia nos noticiários, insinuando que o bem comum e os direitos individuais são irreconciliáveis. Escolhemos um dos lados e nos entrincheiramos nas redes sociais, disparando sem piedade contra quem está erradamente indo contra as nossas certezas. Angustiados, estamos na iminência de explodir.           Enquanto escrevo, olho pela janela e não encontro o costumeiro movimento de carros e g

Klaus: um jeito diferente de enxergar o Papai Noel

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Klaus: filme dirigido por Sergio Pablos UM JEITO DIFERENTE DE ENXERGAR O PAPAI NOEL Ao longo da vida já enxerguei a noite de Natal por diferentes ângulos. Quando criancinha, olhando os adultos de baixo para cima, sonolento dado o avançar das horas, só prestava atenção no colorido dos papéis de presente, tentando adivinhar qual deles seria o meu. Quando cresci e passei a enxergar o tampo da mesa, só tinha olhos para a fartura da ceia. Quando comecei a trabalhar, senti o prazer de poder presentear. Quando me casei, precisei me desdobrar em dois, um ano lá outro cá. Quando minha filha nasceu me peguei olhando de cima para baixo, tentando manter as tradições. Quando amadureci, entendi que confraternizar era mais do que apenas levantar brindes e tilintar os copos.         Aprendi os significados religiosos do Natal e ao longo dos anos percebi os laços familiares se apertando ao meu redor, conforme os mais singelos presentes eram trocados. Senti a falta dos que partiram. Comemorei a chegada

Fama: o musical de Alan Parker que marcou os anos 80

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Fama; filme dirigido por Alan Parker UM FILME QUE FALOU COM A JUVENTUDE DOS ANOS 80 Depois de realizar O Expresso da Meia Noite , Alan Parker deu um salto temático e caiu em uma escola de artes performáticas de Nova Iorque, para contar as aventuras, desventuras e sonhos de jovens aspirantes ao competitivo mundo do showbizz. O filme  Fama , que realizou em 1980, fez imenso sucesso e marcou toda uma geração, ditando moda, inspirando a abertura de escolas de artes em todo o mundo e emplacando canções inesquecíveis.           Inspirado no musical A Chorus Line , que mostra dançarinos disputando vaga em um musical durante as audições de seleção do elenco, o produtor David De Silva imaginou contar a história pregressa dos candidatos, desde a formação na escola de artes. Contratou Christopher Gore para escrever o roteiro e viabilizou a produção junto a um grande estúdio. O projeto caiu nas mãos do inglês Alan Parker, diretor consagrado, com sólida experiência no mercado da publicidade.     

Top 10 de 2020

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OS FILMES QUE MAIS DERAM O QUE FALAR AQUI NA CRÔNICA DE CINEMA           Crônica de Cinema é praticamente uma recém-nascida: está completando um ano! Nasceu como blog em janeiro de 2020. E olha, devo dizer que demanda tanto cuidado quanto uma filha de verdade. Exige atenção diária com pesquisa, planejamento, busca por imagens, diagramação, redação... Sempre com horário marcado. É um empreendimento gratificante, que me traz a oportunidade de conhecer gente que adora filmes tanto quanto eu – e sempre tem informações e opiniões para acrescentar. Além disso, permite extravasar o impulso urgente de escrever, que trago comigo desde sempre.           Para divulgar a Crônica de Cinema, criei uma página no Facebook e um perfil no Instagram. Minha ideia foi usar estas redes sociais como microblogs, postando textos mais longos do que o normal. Raciocinei da seguinte forma: quero me dirigir às pessoas que gostam de ler, que valorizam a linguagem escrita e não se detém diante de um text

Poder Absoluto: thriller assinado por Clint Eastwood

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Poder Absoluto: filme dirigido por Clint Eastwood ÓTIMOS ATORES RECITANDO UM TEXTO AFIADO Ao invadir uma mansão, ladrão de joias testemunha um assassinato. A vítima, a mulher de um bilionário. O criminoso, um homem importante e poderoso. Por sorte, o ladrão não é um qualquer, mas sim um daqueles personagens durões e infalíveis vividos por Clint Eastwood. Poder Absoluto , filme de 1997 que ele dirige e também protagoniza, é um thriller envolvente, com grandes atuações e um roteiro bem costurado pelo respeitadíssimo Willian Goldman.           Não sei explicar o porquê, mas não aprecio filmes que têm ladrões, vigaristas e larápios como protagonistas. Para romper com essa implicância inicial o enredo precisar ser muito bom. Poder Absoluto conseguiu esse feito e capturou minha atenção. Não está entre os grandes filmes assinados pelo diretor, mas reúne diversas qualidades que me lavam a recomendá-lo.           O personagem interpretado por Clint Eastwood ganha certa profundidade. Apesar do

Birdman (Ou a Inesperada Virtude da Ignorância): motivos de sobra para assisir

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Birdman: filme dirigido por Alejandro Iñárritu UMA GRANDE OUSADIA DO CINEMA,  FILMADA EM UM ÚNICO PLANO-SEQUÊNCIA Uma postagem recente da Crônica de Cinema sobre o filme 1917 , dirigido por Sam Mendes, rendeu comentários provocativos de seguidores da página no Facebook. Dois deles, Emmanuel Martins Manu e Sonia Cardoso, ficaram intrigados em relação às técnicas de filmagem que possibilitaram a montagem de apenas dois longos planos-sequência. A sugestão foi a de que escrevesse sobre tal proeza. Embora não tenha credenciais para entrar nos meandros técnicos, decidi aceitar a provocação, mas levando o assunto para um terreno que me é mais familiar: os recursos narrativos.           Para elevar a técnica do plano-sequência ao estado da arte, Sam Mendes contou com um vultoso orçamento, além de profissionais especializados e equipamentos de ponta. Seu filme é um espetáculo visual, mas não foi realizado em “duas tacadas”, como somos levados a crer. Na verdade, há diversos planos-sequência col

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