A Invenção de Hugo Cabret: um filme sobre a invenção do cinema

Cena do filme A Invenção de Hugo Cabret

A Invenção de Hugo Cabret: dirigido por Martin Scorsese

MAIS DO QUE INOVAÇÃO TÉCNICA, A INVENÇÃO DO CINEMA EXIGIU ARTE!

Em 2011, Martin Scorsese realizou sua primeira produção em 3D, e ela se voltou para  o público infantil. Trata-se do filme A Invenção de Hugo Cabret. Belíssimo, é uma homenagem ao cinema e aos visionários que o inventaram. Combina uma fotografia deslumbrante com efeitos especiais magníficos, direção de arte de encher os olhos e uma excelente trilha sonora. Baseado no livro best-seller de Brian Selznick, The Invention of Hugo Cabret, narra uma história de mistério e funciona, ao mesmo tempo, como um romance de aventura – ainda que um tanto sombrio.
        A história se passa em 1930. Acompanhamos o drama de Hugo Cabret (Asa Butterfield), um garoto de 12 anos que vive escondido entre as engrenagens do relógio da estação ferroviária de Montparnasse, em Paris. Órfão de um relojoeiro apaixonado por cinema, que lhe deixou de herança um autômato inacabado – uma engenhoca antropomórfica que, ao ser consertada, escreverá uma mensagem secreta. Enquanto tenta solucionar o mistério, Hugo vive como clandestino, roubando comida entre os comerciantes e transeuntes da estação. Quando conhece Isabelle (Chloe Moretz), encontra na garota uma parceira de aventura e juntos tropeçam com George Méliès (Ben Kingsley), com quem irão resgatar uma bela história esquecida da sétima arte.
        O George Méliès apresentado em A Invenção de Hugo Cabret é justamente aquele que, com espírito pioneiro, realizou entre 1906 e 1923 mais de 500 filmes, onde explorou o potencial do cinema para criar um mundo de ilusões. Com notável sensibilidade artística, o mágico e prestidigitador apaixonado por bonecos e fantoches acabou indo além: ajudou a estabelecer os fundamentos da sétima arte. Seu momento de epifania aconteceu em 1895, durante uma exibição pública do cinematógrafo dos irmãos Lumière. Maravilhado, não sossegou enquanto não pôs as mãos em um equipamento de filmagem. Já no ano seguinte, Méliès lançou seu primeiro filme, onde combinava magia e cinema, para deleite de um público fascinado com o universo fantástico do cineasta.
        Criativo, Méliès inovou, trabalhando com efeitos teatrais e pirotecnias, lançando mão de técnicas de imposição de imagens, transição de cenas, encadeamento de planos, cenários e fundos neutros, perspectiva forçada, efeitos óticos... Seus truques permitiram mostrar cenas bizarras, onde objetos flutuavam, pessoas se transmutavam, cabeças se separavam dos corpos... O homem pode até viajar para a Lua num tiro de canhão! O cineasta provou que, no cinema, a realidade ganhava contornos improváveis.
        Assim como explodiu em sucesso, George Méliès definhou para o ostracismo, na medida em que a Primeira Guerra Mundial se impôs. Outras linguagens – mais sóbrias – estabeleceram a vocação do cinema para contar histórias mais complexas e emocionantes. Assim, os truques do velho mágico ficaram no plano das curiosidades. Falido, foi parar em um lar para idosos em 1925. Morreu em 1938. Seu legado ficou esquecido por décadas, até ser resgatado. Ainda assim, nossos olhos modernos enxergam Méliès como um homem do século XIX, dono de uma estética rebuscada e teatral, mas surpreendente e cativante. Foi para homenagear esse personagem fundamental na história do cinema que Martin Scorsese realizou A Invenção de Hugo Cabret.
        Adaptar o livro de Selznick foi um desafio. A obra é inovadora e combina a linguagem narrativa de um livro ilustrado com aquela das histórias em quadrinhos. São 284 páginas com belíssimos desenhos originais, que oferecem ao leitor uma experiência de leitura envolvente e criativa. A tarefa de transpor esse universo para o formato de longa-metragem exigiu empenho por parte do roteirista John Logan. Ele precisou fazer diversas modificações, eliminando alguns personagens e criando outros para sustentar o contraponto dramático.
        Como A Invenção de Hugo Cabret é uma homenagem ao cinema, o roteirista procurou trabalhar com praticamente todos os recursos narrativos que encontramos nos filmes: narração em off, flashbacks, sequências sem diálogos, animações... Há um pouco de tudo! E há também a experiência e o domínio técnico de Martin Scorsese, um cineasta completo que soube acrescentar incontáveis referências ao mundo do cinema e realizar uma obra encantadora – mostrando que não faz somente filmes de gângsteres, não é mesmo?
        A Invenção de Hugo Cabret recebeu 11 indicações para o Óscar, mas ficou só (sic) com cinco estatuetas: melhor fotografia, melhor direção de arte, melhor mixagem de som, melhor edição de som e melhores efeitos visuais/especiais. Palmas para Scorsese!!

Resenha crítica do filme A Invenção de Hugo Cabret

Data de produção: 2011
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: John Logan
Elenco: Asa Butterfield, Chloe Moretz, Ben Kingsley, Sacha Baron e Jude Law

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Comentários

  1. Martin Scorsese fez Época da Inocência. Uma obra- prima! Mostrou que podia fazer filmes excelentes que não fossem de gangster

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    1. Ah, essa história de que Scorsese só faz filmes de gângsteres não passa de lenda consolidada no imaginário do público.

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