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Mostrando postagens de junho, 2020

A Pé Ele Não Vai Longe

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SEM VITIMAR SEU PERSONAGEM, ESSE FILME TEM MUITO DO ESPÍRITO BEATNIK A Pé Ele Não Vai Longe: filme dirigido por Gus Van Sant De novo, Gus Van Sant está às voltas com personagens desajustados! Em A Pé ele Não Vai Longe, de 2018, conta a história de John Callahan, que ficou tetraplégico aos 21 anos depois de um acidente causado pela bebedeira e virou um cartunista famoso nos Estados Unidos, ácido, irreverente e controverso. Encontrar a vocação, vencer o alcoolismo, vencer os demônios internos... Sua trajetória de superação é edificante. Joaquim Phoenix dá um show de atuação! ------------------------------ Joaquim Phoenix encara a câmera, mostrando que seu personagem jamais sente pena de si mesmo. Sente raiva, culpa, medo... E um sem número de emoções que vão se desenhando ao longo do filme. Por meio do seu roteiro bem costurado, Gus Van Sant soube conter os impulsos transgressores e nos conta uma história edificante – que não deixa de ser incômoda, afinal, o personagem não veio ao mundo

Glória Feita de Sangue: um ótimo drama de guerra

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Glória Feita de Sangue: filme dirigido por Stanley Kubrick QUANDO OS CANALHAS SE REFUGIAM NAS FILEIRAS DO PATRIOTISMO           Na primeira vez em que assisti ao filme Glória Feita de Sangue , realizado em 1957 por Stanley Kubrick, devia ter uns 20 anos. Era de madrugada, estava com insônia e liguei a TV. Por coincidência o filme começou a ser exibido naquele instante. Me acomodei no sofá e pensei:           – É um filme velho, de 1957 e ainda por cima em preto-e-branco... Em pouco tempo vou estar dormindo.           Como me enganei! Não só acompanhei com entusiasmo como decidi que aquele seria, dalí em diante, um dos dez filmes que levaria comigo se tivesse que passar um tempo em uma ilha deserta. Uma obra incrível, que Kubrick dirigiu antes de completar seus 30 anos!           Glória Feita de Sangue baseou-se no romance escrito em 1935 por Humphrey Cobb, inspirado num artigo que leu no New York Times, sobre cinco soldados franceses na Primeira Guerra Mundial, que foram executados po

Green Book: O Guia: viajantes discriminados pela cor da pele

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Green Book: O Guia: filme dirigido por Peter Farrelly UM FILME SOBRE O RACISMO QUE EMBAÇA A VISÃO DE ALGUNS Muitos consideram o racismo um tema delicado, dada sua elevada octanagem quando misturado a componentes ideológicos. Não vejo assim. Na verdade, a questão é simples: raça e cor da pele não são determinantes dos fatores mentais, morais e espirituais que definem o ser humano. Caráter, talento, inteligência, dignidade, honra... Quem enxerga correlação entre esses valores e as características raciais de um indivíduo o faz por puro preconceito. O faz por algum tipo de conveniência. E ponto final.           Em Green Book: O Guia , filme de 2018 dirigido por Peter Farrelly, esse é apenas o ponto de partida. É de racismo que ele nos fala o tempo todo, mas não de forma panfletária. Faz isso usando o que o cinema tem de melhor: põe diante dos nossos olhos personagens verdadeiros e os deixa interagir em profundidade a partir de suas próprias atitudes e decisões. Dramatiza acontecimentos qu

A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça: fantasia, horror e compromisso com o belo

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A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça: dirigido por Tim Burton TERROR CLÁSSICO E MODERNO NUMA MISTURA EQUILIBRADA   Histórias de fantasia e suspense, quando contadas por um diretor que domina a linguagem visual e é dono de uma estética original, preenchem a tela com cenas inusitadas, surpreendentes e marcantes. A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça , de 1999, é um dos filmes mais bonitos de Tim Burton – sem deixar de ser bastante assustador! É um filme de terror e suspense onde o que mais salta aos olhos é a sensibilidade artística com a qual foi realizado.           Estamos diante de uma obra claramente inspirada nos clássicos filmes realizados pela produtora inglesa Hammer Films, que se especializou em produções góticas de terror e fantasia. Por meio delas, personagens memoráveis, como o Barão Victor Frankenstein, Conde Drácula e a Múmia, ganharam vida para além da literatura e ressuscitaram nas salas de cinema dos anos 50, 60 e 70, fazendo a festa dos cinéfilos apreciadores do gênero. É verdade

Império Do Sol: Christian Bale era só um garoto

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O Império do Sol: filme dirigido por Steven Spielberg UMA HISTÓRIA ÉPICA, CONTADA COM IMAGENS ARREBATADORAS Jim é um garoto mimado. Não podemos culpá-lo por ter nascido no seio de uma família abastada, que o cerca de conforto e proteção por todos os lados. Nem pela postura altiva e aristocrática que assume com tamanha naturalidade nos ambientes assépticos em que circula. Mesmo assim, em se tratando do protagonista de um filme dirigido por Steven Spielberg, fica difícil nutrir por ele a simpatia que gostaríamos. Em Império do Sol , produção de 1987, a primeira pergunta que emerge é: o que esse fedelho arrogante teria para nos ensinar? Então, o diretor deixa claro o motivo pelo qual estamos com os olhos grudados na tela: para vê-lo aprender! E como ele aprende!           Com habilidade, Spielberg vai nos levando a estabelecer uma relação de empatia com o garoto Jim, e nos deixa acompanhar o notável arco de transformação que descreverá. De criança privilegiada, membro de um exclusivo club

Mr. Bean Photoshopped

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O CINEMA VIRA MATÉRIA-PRIMA Não sei quem começou essa história, mas... palmas para ele – ou ela! Mr. Bean é um personagem conhecido e seu rosto empresta novo significado aos personagens de outros filmes. As cenas e cartazes aqui reunidos foram garimpados no Google e certamente representam uma pequena fração do movimento Mr. Bean Photoshopped. É o cinema como matéria-prima para a criatividade. Divirta-se! Mr. Bean na Tropa de Elite: Photoshopped by Crônica de Cinema

The Night Of: minissérie com John Turturro e Riz Ahmed

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The Night Of: minissérie é oito episódios UMA MINISSÉRIE COM A DENSIDADE DE VÁRIOS LONGA-METRAGENS Desde garoto me tornei viciado em TV. Nasci em 1960 e faço parte da primeira geração de brasileiros criada na frente desse aparelho mágico – ainda em branco e preto e a válvula. Acumulei horas de desenhos animados, séries, novelas, programas de auditório, filmes... muitos filmes! Foi através da TV que tomei contato com preciosos clássicos, como A Noite Americana , Amarcord e Glória Feita de Sangue . Todos foram exibidos na TV, ainda que com anos de atraso em relação aos cinemas.           Mas é claro que a TV também exibia lixo! Além das séries bobinhas e despretensiosas, era frequente tropeçar em filmes tolos, produzidos especialmente para a televisão. Nesses, a temática era leve, a abordagem superficial e os planos sempre fechados, com enquadramentos mais adequados à telinha. Mas desenvolvi um macete para evitar esse tipo de filme: ficava de olho nos créditos iniciais, até o mo

Os Sete Samurais

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Os Sete Samurais: filme dirigido por Akira Kurosawa Quando as histórias se tornam patrimônio comum e universal, podem ser contadas e recontadas sem perder a originalidade ------------------------------ Akira Kurosawa influenciou, mas também foi influenciado pelo western. Em Os Sete Samurais, de 1954, trouxe arquétipos que foram teletransportados para as pradarias americanas. Primeiro, no filme Sete Homens e Um Destino, dirigido em 1960 por John Sturges. Depois, no remake de 2016 dirigido por Antoine Fuqua. Enjeitados que se redimem, malfeitores que pagam por seus erros, indefesos que se descobrem corajosos... O cinema tem permissão para retomar as boas histórias, desde que traga uma leitura pertinente. Drops de Cinema Os Sete Samurais Data de produção: 1954 Direção: Akira Kurosawa Roteiro: Akira Kurosawa, Shinobu Hashimoto e Hideo Oguni Elenco: Takashi Shimura, Toshirô Mifune e Yoshio Inaba

O Quarto de Jack: o amor indestrutível de uma mãe por seu filho

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O Quarto de Jack: filme dirigido por Lenny Abrahamson UMA HISTÓRIA FICTÍCIA, ESCRITA COM IMAGINAÇÃO A escritora irlandesa-canadense Emma Donoghue é autora de best-sellers, premiada internacionalmente e festejada por uma legião de leitores. Talentosa e dona de uma grande capacidade imaginativa, ela produz romances, contos e peças de teatro. E produz também roteiros de filmes! Antes mesmo de publicar seu romance Quarto , de 2010, ela tratou de escrever uma adaptação paras as telas, que se materializou no filme O Quarto de Jack , dirigido por Lenny Abrahamson em 2015. E, de quebra, obteve uma indicação para o Óscar de melhor roteiro adaptado.           Seu romance alcançou um estrondoso sucesso, ao contar uma história fictícia, mas tão perturbadora e envolvente que irradia verossimilhança. O tema é o amor de uma mãe corajosa para com seu filho indefeso, sua capacidade de superação e sua compreensão da maternidade, que a tornam invencível e indestrutível diante das circunstâncias trágicas

Yesterday: filme com ótima ideia, mas roteiro fraco

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Yesterday: filme dirigido por Danny Boyle COMO DESPERDIÇAR UMA ÓTIMA IDEIA Já pensou acordar e descobrir que você é o único no planeta que se lembra das canções dos Beatles? Vasculha a internet e não encontra uma única vírgula sobre o quarteto de Liverpool. Mas você sabe de cor as letras, os acordes, os arranjos... Em certo momento você pensará que as canções são criações da sua mente. Num arroubo pretencioso, chegará a posar de compositor diante do espelho. Mas terminará consciente de que é proprietário de um acervo tão valioso, que não poderá ficar enfurnado nos confins da sua memória. Terá que assumir a responsabilidade de divulgá-lo para o mundo.           Pena que essa grande ideia tenha sido desperdiçada num filme... medíocre, por assim dizer. Dirigido por Danny Boyle, escrito por Richard Curtis e estrelado por Himesh Patel, o longa carece de personagens carismáticos, segue uma narrativa apática e é escasso de sensibilidade artística. Uma tal sentença pode parecer exagero, consid

Ella e John: um drama ao qual vale a pena assistir

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Ella e John: filme dirigido por Paolo Virzì NESSE ROAD MOVIE, OS VIAJANTES CARREGAM MUITA BAGAGEM Atenção! O filme Ella e John , de 2017, contém cenas de velhice explicita! Nele, o casal Donald Sutherland e Helen Mirren esbanja charme, bom humor e a deliciosa inconsequência dos que estão no fim de uma vida bem vivida. Ele tem na cabeça tantas lembranças que já não sobra espaço para a memória recente. Ela tem senso prático, devoção e muita coragem para assumir o comando. Esse road movie de 2017 dirigido pelo italiano Paolo Virzì é agradável, sensível e tocante.           Baseado num romance escrito por Michael Zadoorian, o filme encontra o casal Ella e John às portas de suas bodas de ouro. Viveram uma vida confortável, repleta de conquistas e realizações. Cultivaram muito amor e companheirismo. Ele é um especialista em literatura assolado pelo mal de Alzheimer. Ela, apesar de vívida e lúcida, amarga um câncer implacável. Mas ainda sobra ousadia para que o casal se meta em uma travessur

A Casa do Lago: atmosfera romântica com toque poético

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A Casa do Lago: filme dirigido por Alejandro Agresti PRODUÇÃO AMERICANA, DIRETOR ARGENTINO E ENREDO ORIENTAL – Como é que ainda não tinha visto esse filme? – perguntei em voz alta, enquanto inspecionava os créd itos finais co m o controle remoto na mão.          – Pois eu é que te pergunto! – ironizou Ludy. – Com essa, é a terceira vez que assisto!         – É que eu pensei que era só mais um romancezinho enjoado...         Para minha surpresa, A Casa do Lago , filme de 2006 dirigido pelo argentino Alejandro Agresti, está longe de ser uma daquelas produções românticas feitas para agradar apenas ao público ávido por histórias açucaradas, com apelos fáceis e clichês em série. Tem conteúdo narrativo, personagens expostos em profundidade, senso de ritmo, uma atmosfera envolvente e muito charme. Ou seja: é cinema de qualidade.         Na minha mente, o par Keanu Reeves e Sandra Bullock ainda estava associado aos filmes de ação rasos, repletos de tiros, bombas e ônibus fora de controle. Para

Alien: o Oitavo Passageiro: mistura poderosa de terror com ficção científica

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Alien, o Oitavo Passageiro: direção de Ridley Scott CINEMA EM ESCALA INDUSTRIAL COM RELEVÂNCIA ARTÍSTICA Vamos voltar no tempo, até 1979. Às portas da década de 80 o mundo ainda era assombrado pela guerra fria. Nos cinemas, títulos como O Franco Atirador , O Expresso da Meia-Noite e Apocalypse Now disputavam espaço nas salas de cinema com O Show Deve Continuar , Kramer vs. Kramer e O Céu Pode Esperar . Filmes considerados relevantes eram aqueles sérios, contundentes, densos e repletos de conteúdo artístico e dramático. Já um filme que ousasse misturar ficção científica com terror, tinha poucas chances de ser discutido nas rodas de cinéfilos – pelo menos daqueles mais exigentes, que torciam o nariz para as produções comerciais e menosprezavam a função de entretenimento do cinema.           Acontece que Alien, o Oitavo Passageiro , dirigido por Ridley Scott, correu por fora e se impôs como novidade, criando um novo padrão para o cinema de entretenimento em escala industrial. Ganhou im

Fragmentado: atmosfera perturbadora dos grandes thrillers psicológicos

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Fragmentado: filme dirigido por M. Night Shyamalan SHYAMALAN ESCALOU UM ATOR QUE VALE POR UMA MULTIDÃO Em termos comerciais, os filmes de M. Night Shyamalan funcionam muito bem. Muitos espectadores não se importam de ser ludibriados, apenas para que no final levem um susto ou sejam surpreendidos pelo inusitado. Mas em Fragmentado , seu filme de 2016, o diretor não se vale de truques sujos para alimentar um suspense intenso e perturbador. Seu trunfo é James McAvoy, que sabe conversar com a câmera e se fazer convincente. Esse triller psicológico é, portanto, um impressionante trabalho de ator!         Fragmentado conta a história de Kevin Wendell Crumb (James McAvoy), um sujeito habitado por 23 personalidades, tratado pela Dra. Karen Fletcher (Betty Buckley) como um curioso caso clínico. Ocorre que uma dessas personalidades sequestra três garotas adolescentes e as coloca em um cativeiro subterrâneo e impenetrável. Elas lutam para escapar, mas nunca sabem com quem estão lidando. A narrat

Milagre da Cela 7: personagens fofos submetidos a muita injustiça

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O Milagre da Cela 7: filme dirigido por Mehmet Ada Öztekin NÃO HÁ MILAGRE QUE CONSIGA CONSERTAR ESSE FILME Se o filme Milagre da Cela 7 fosse mexicano, seria fácil. Bastaria classificá-lo como mais um daqueles dramalhões piegas que já fazem parte do anedotário popular. Como se trata de um filme turco – remake de um filme coreano com o mesmo nome – prefiro enquadrá-lo como uma obra de qualidades escassas. Esse cuidado é porque não conheço a cultura local em detalhes e, eventualmente, pode ter me escapado algum elemento estético que justifique tamanha pieguice.         Descer a lenha em um filme desses é complicado. Muitos espectadores compram de imediato o apelo fácil de colocar em cena dois personagens fofos e submetê-los às mais violentas injustiças. Como as lágrimas vêm fartas, classificam o filme como emocionante. Mas em Milagre da Cela 7 a emoção é circunstancial e rasa. Não emerge das profundezas dos personagens como resultado das experiências e transformações impostas pelo cont

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