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Mostrando postagens com o rótulo Baseado em Literatura

O Cântico dos Nomes: uma ode imaginativa e original

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O Cântico dos Nomes: filme de François Girard UM DRAMA MUSICAL FICTÍCIO, AGARRADO NAS VERDADES SOBRE O HOLOCAUSTO Antes de mais nada é preciso deixar claro: O Cântico dos Nomes,  produção de 2019 dirigida pelo canadense François Girard, é um filme sobre o Holocausto. É um drama ficcional, com personagens inventados e situações imaginárias, mas transmite autenticidade e verossimilhança, a ponto de parecer inspirado em fatos. A produção é uma adaptação do romance com o mesmo título, escrito em 2002 pelo crítico musical britânico Norman Lebrecht, autor que conhece os bastidores do mundo da música erudita como poucos – ele mantém o blog de música clássica  Slipped Disc . A história que ele nos conta é comovente e combina um profundo respeito pela fé religiosa, pelos valores familiares e pela linguagem musical.           O Cântico dos Nomes conta a história de Martin Simmonds. Quando garoto, ganhou um irmão adotivo, o prodígio do violino Dovidl Rappaport, que aos 9 anos é dono de uma arrog

O Despertar de uma Paixão: um filme que no final deixa muitas reflexões

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O O Despertar de Uma Paixão: dirigido por John Curran QUANDO CAI O VÉU DE ILUSÃO QUE COBRE UM RELACIONAMENTO O romance The Painted Veil , escrito em 1925 por William Somerset Maugham é intimista e um tanto sombrio. Conta uma história de amor às avessas, onde a paixão só vem muito depois do casamento e, ainda assim, atribulada por acontecimentos trágicos. Rendeu três adaptações para o cinema: em 1934, com o filme The Painted Veil , estrelado por Greta Garbo e Herbert Marshal, em 1957, no filme The Seventh Sin , com Bill Travers e Eleanor Parker e em 2006, no filme O Despertar de Uma Paixão , estrelado por Edward Norton e Naomi Watts. Esse último remake é resultado do empenho de Edward Norton, que desde 1999 planejava produzi-lo, mas apenas tomou forma em 2001, quando Naomi Watts entrou no projeto também como produtora.           O Despertar de Uma Paixão , dirigido por John Curran, é um daqueles filmes com vocação para “cinemão”. Tem ascendência nobre e é tratado pelos anglo-saxões de f

A Cor Púrpura: onde foram parar as cartas de Miss Celie?

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A Cor Púrpura: filme de Steven Spielberg ADAPTAÇÃO DESFOCADA DE UM ROMANCE CONTUNDENTE Eis que, em 1985, Steven Spielberg se vê às voltas com seu primeiro drama, depois vencer como diretor de grandes sucessos de bilheteria. Certamente foi colocado à frente do projeto para transformar A Cor Púrpura em um arrasa-quarteirão. E conseguiu, mas conseguiu também mergulhar em um mar infestado de polêmicas e críticas desfavoráveis. Revisitei o filme recentemente e continuo achando que o diretor errou a mão, embora tenha nos entregado uma produção caprichada, com uma narrativa ágil e envolvente.           Mas antes de cutucar nos problemas, vamos falar um pouco do livro que originou o filme. Trata-se do romance A Cor Púrpura , escrito em 1983 por Alice Walker. Esse estrondoso sucesso, que rendeu a ela o Prêmio Pulitzer, traz uma característica importante: é construído por meio das cartas escritas pela protagonista – endereçadas ao Querido Deus e à sua irmã Nettie. Segue um formato literário pop

Laranja Mecânica: um clássico que já foi proibido

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Laranja Mecânica: filme dirigido por Stanley Kubrick UMA HISTÓRIA SOBRE A VIOLÊNCIA, O CONTROLE DO ESTADO E A LINGUAGEM COMO INSTRUMENO DE TRANSFORMAÇÃO Era um garoto de dez anos quando Laranja Mecânica foi realizado por Stanley Kubrick em 1971. Por volta dos quinze, fiquei sabendo da existência do polêmico filme, porque a mídia o abordava em frequentes reportagens – o próprio diretor, vejam só, havia pedido para banir a película das salas de exibição na Inglaterra, por ser hiperviolenta e sexualmente apelativa. Além disso, as estrelas do rock britânico estavam sempre fazendo referências ao filme, mantendo acesa a curiosidade do resto do mundo. Enquanto isso, no Brasil, Laranja Mecânica estava proibido de pôr os pés.           Por óbvio, minha curiosidade se voltou primeiro para o título do filme. Que serventia teria um tal mecanismo em forma de laranja? Mais tarde descobri se tratar de uma expressão criada pelo autor do livro, Anthony Burgess, para se referir ao sujeito que, por for

Doutor Jivago: uma história de amor ofuscando a revolução russa

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Doutor Jivago: filme dirigido por David Lean CINEMA ELEGANTE QUE CONTINUA IRRADIANDO EXUBERÂNCIA Quando me dei por gente, Doutor Jivago já era um dos maiores clássicos da história do cinema. Sabia praticamente nada sobre o filme, apenas o que ouvia de minha mãe e de minhas tias, quando conversavam sobre filmes, romances açucarados e a vida das atrizes e atores de Hollywood – tudo muito chato para um garoto mais interessado em ação e aventuras. No entanto, conhecia muito bem a música do filme. Volta e meia o Tema de Lara estava na vitrola da sala, nos programas de rádio e nos assobios da minha mãe enquanto pendurava para secar as roupas no varal. Virou lembrança de infância, mais associada às preferências e ao gosto de outras gerações.           Quando finalmente assisti ao filme, já era adulto – apto a apreciar e compreender o gosto e as preferências das outras gerações. Fiquei surpreso com essa obra de 1965 dirigida por David Lean. Não me deparei com as cenas emboloradas, textos ult

Guerra dos Mundos: releitura de um clássico da ficção científica

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Guerra dos Mundos: filme dirigido por Steven Spielberg E ASSIM, A FICÇÃO CIENTÍFICA VIROU GÊNERO LITERÁRIO Baseado no clássico da ficção científica escrito por Herbert George Wells  –  publicado pela primeira vez em 1897, na Inglaterra  –  o filme  Guerra dos Mundos , dirigido em 2005 por Steven Spielberg, foi realizado para ser um arrasa-quarteirão. Podemos dizer que é fruto da parceria do diretor com o ator Tom Cruise, nascida durante a realização do sucesso comercial  Minority Report – A Nova Lei . O astro de Hollywood e o cineasta especializado em... extraterrestres decidiram que seu próximo projeto seguiria na mesma trilha.          Acontece que o tema i nvasão alienígena já estava batido. Além do mais, o livro de H.G. Wells narra uma história sombria, trágica e com passagens repletas de horror. Então, Spielberg precisou encontrar uma mensagem auspiciosa, que ressaltasse o lado bom do ser humano, aquele que aflora diante das grandes tragédias. Para esta adaptação de Guerra dos Mun

Cavalo de Guerra: um livro infantil que virou filme de Steven Spielberg

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Cavalo de Guerra: filme dirigido por Steven Spielberg UMA OBRA MADURA, ADAPTADA DE UM LIVRO INFANTIL De um filme sobre a Primeira Guerra Mundial dirigido por Steven Spielberg, os mais apressados podem esperar por momentos de horror e violência, numa abordagem gráfica crua e realista. Nada disso! Cavalo de Guerra , realizado em 2011, é um filme para toda a família, baseado em um livro infantil escrito por Michael Mopurgo. A guerra, em toda a sua tristeza, é retratada como pano de fundo, mas o foco de Spielberg vai para os personagens, seus dramas e suas trajetórias.           Cavalo de Guerra conta a história de Joey, um cavalo que pertence a Albert Narracott, garoto cuja família humilde vive numa pequena propriedade em Devon, na Inglaterra. Estamos às portas da Primeira Guerra e os fortes laços emocionais entre o garoto e seu cavalo são postos à prova quando Joey é vendido para o Exército e destacado para as batalhas na França. Mortes, doenças, violência extrema e uma exte

Um Sonho de Liberdade: o tema é a redenção!

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Um Sonho de Liberdade: filme dirigido por Frank Darabont UM FILME DE PRESÍDIO QUE NÃO EXALTA A FAÇANHA DA FUGA Redenção. Eis a palavra que falta no título em português desse filme. Sua omissão rouba uma boa fatia de significado e nos leva a sentar na poltrona esperando acompanhar a saga de personagens ansiosos por liberdade. E para complicar, em se tratando de um filme sobre a vida num presídio, a palavra liberdade também vem amputada de significados e parece pronunciada apenas como antônimo de cárcere. Mas Um Sonho de Liberdade , filme de 1994 dirigido por Frank Darabont, está longe de ser um filme de presídio feito para exaltar a façanha da fuga. É um filme sobre... redenção!           Baseado no conto Rita Hayworth and Shawshank Redemption , escrito por Stephen King e publicado no livro Quatro Estações , o filme se tornou uma das mais celebradas produções do cinema e conquistou uma legião de fãs de todas as idades. Seu fracasso nas bilheterias, atribuído à concorrência d

O Exorcista: um clássico que continua assustador

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O Exorcista: filme dirigido por Willian Friedkin EFEITOS ESPECIAIS AJUDAM, MAS O IMPORTANTE É SABER CONTAR A HISTÓRIA Quando foi lançado em 1973, O Exorcista virou fenômeno por toda a mídia. Nas rodas de conversas, era assunto obrigatório. Nunca um filme de terror havia conquistado tanto espaço no imaginário do público, nem na crítica especializada. Para um garoto de 14 anos, interessado em cinema, assistir ao filme seria uma conquista – prova de coragem e oportunidade de se aproximar do mundo adulto. O problema é que ele não era permitido para menores de 18 anos. Naquela época, a censura era dura e implacável!           Mas encontrei a solução: um amigo três anos mais velho me emprestou um exemplar do livro O Exorcista , escrito por William Peter Blatty, também autor do roteiro que foi às telas de cinema. A capa, que não seguia o padrão gráfico dos cartazes do filme – lembro que trazia uma ilustração medieval – era mais artística do que assustadora. Mergulhei na leitura.           Pe

12 Anos de Escravidão: uma história verídica

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12 Anos de Escravidão: filme dirigido por Steve McQueen ELE SOFREU A PIOR DAS INJUSTIÇAS Em 1841, Solomon Northup era um homem exemplar. Casado, pai de três filhos, era instruído e letrado. Apaixonado por música, exercitava sua liberdade e levava uma vida honesta e produtiva, numa Nova Iorque repleta de oportunidades. Por outro lado, também conheceu o lado sombrio da humanidade e viveu horrores inimagináveis. Ele os registrou em  sua autobiografia intitulada  12 Anos de Escravidão , uma narrativa de grande valor literário e relevância histórica publicada em 1853 . O cineasta Steve McQueen e o roteirista John Ridley transportaram sua história para as telas e realizaram um dos mais importantes filmes sobre o drama dos escravos no sul dos Estados Unidos.           12 Anos de Escravidão , de 2013, é um filme arrebatador. Conta como Northup, enganado por dois sujeitos abjetos, acaba sequestrado e levado para Nova Orleans, onde é vendido como escravo. Sem identidade, sem direitos individuais

A Escolha de Sofia: diante de um dilema devastador

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A Escolha de Sofia: filme dirigido por Alan J. Pakula UM CLÁSSICO COM DENSIDADE DRAMÁTICA ESMAGADORA Que mundo emergiu da Segunda Guerra Mundial? Depois que as bombas cessaram, que os soldados se cansaram, que a paz foi instituída por decreto, quem eram as pessoas que tentavam seguir com suas vidas? Willian Styron tentou nos dar uma ideia em seu livro A Escolha de Sofia , lançado em 1979. O diretor Alan J. Pakula adaptou a obra para o cinema e realizou um clássico, que de tão denso e contundente até hoje emociona.           Pelas lentes de Pakula, A Escolha de Sofia é um filme enclausurado, confinado a uma linguagem teatral e solene. E não poderia ser diferente! Conta a história de Stingo, interpretado por Peter MacNicol, que em 1947 chega ao Brooklyn perseguindo o sonho de se tornar escritor. Vai morar numa pensão, onde conhece Sofia Zawistowska, vivida por Meryl Streep e seu namorado Nathan Landau, vivido por Kevin Kline. Ela, uma sobrevivente do holocausto que se esforça para parec

O Último Rei da Escócia: um thriller inspirado na história real

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O Último Rei da Escócia: filme dirigido por Kevin Macdonald FICÇÃO E REALIDADE DESENHANDO O RETRATO VERDADEIRO DE UM DITADOR A história real que inspirou o romance escrito por Giles Foden, no qual este filme foi baseado, diz respeito aos atos de autoritarismo podre e monstruoso que marcaram o governo de Idi Amin Dada, o ditador que imperou absoluto em Uganda por toda a década de 1970. Já o personagem que serve de fio condutor para a narrativa, o médico escocês Nicholas Carrigan, é fictício, mas graças à arte de contar histórias, ganha uma aura de autenticidade que emana grande força dramática.     O filme  O Último Rei da Escócia ,  dirigido em 2006 por Kevin Macdonald não é um filme denúncia sobre as injustiças e mazelas que insistem em se abater sobre o continente africano. Prefere falar sobre os tentáculos do poder e de como eles envolvem gente bem-intencionada, distraindo com benesses e seduzindo com falsas promessas. É o que acontece com o médico interpretado por James McAvoy, um

O Iluminado: um dos melhores filmes de terror já realizados

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O Iluminado: filme dirigido por Stanley Kubrick UMA HISTÓRIA ESCRITA POR STEPHEN KING, BURILADA POR STANLEY KUBRICK E REESCRITA NO IMAGINÁRIO DOS CINÉFILOS – Quando você vai escrever sobre O Iluminado ?           Desde que inventei a Crônica de Cinema, já ouvi essa pergunta inúmeras vezes. Mas a quantidade assustadora de informações disponíveis na internet sobre esse filme sempre me inibiu. Que comentários poderia fazer que os cinéfilos já não soubessem de cor e salteado? O Iluminado , realizado em 1980 por Stanley Kubrick é um dos melhores e mais elaborados filmes de terror de todos os tempos. Sobre ele há documentários, entrevistas, cenas de bastidores, fotografias, curiosidades, fofocas... Há inclusive uma complexa teia de especulações sobre a obsessão do diretor com a simetria do seu filme, expressa nos números ocultos em diversas cenas, como se fossem os easter eggs de um videogame.           Para começar a falar sobre o filme  O Iluminado , preciso deixar claro que Stanley Kubric

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