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Mostrando postagens de setembro, 2020

Get on Up - A História de James Brown: uma das melhores cinebiografias musicais

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Get on Up - A História de James Brown: Filme dirigido por Tate Taylor NÃO PRECISA SER FÃ DE CARTEIRINHA PARA EMBARCAR NESSA HISTÓRIA Ah, as cinebiografias musicais! Formam um gênero complexo, que vem sendo cultivado em larga escala pela indústria do cinema. Todo cantor, compositor ou músico de sucesso precisa ter a sua. É uma oportunidade para polir a imagem do biografado, corrigindo defeitos e enaltecendo qualidades, enquanto se tenta não decepcionar as legiões de fãs e alcançar novas faixas de público. O objetivo, no final das contas, é perpetuar o sucesso do artista para... vender mais!         Acontece que realizar uma cinebiografia assim não é empreendimento fácil. Ao contrário, as dificuldades são imensas: repetir na tela a mesma performance artística do biografado, lidar com as exigências dos fás, definir uma narrativa que permita combinar dramatizações com apresentações musicais, recrutar um ator que possa ser identificado com o personagem e que tenha recursos técnicos para can

À Espera de Um Milagre: mistérios no corredor da morte

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À Espera de Um Milagre: filme de Frank Darabont HÁ SERES HUMANOS VAGANDO PELO CORREDOR DA MORTE! Para nós, brasileiros, o corredor da morte não passa de uma invencionice dos americanos. Por aqui, não temos pena morte. Não temos nem prisão perpétua! Quantos anos cumpre, de verdade, um criminoso hediondo nas prisões brasileiras? Vinte, trinta anos? Matou a própria mãe? Esquartejou o marido? Torturou a namorada?... Se inspirar bom comportamento, ganha progressão da pena – não seria mais lógico chamar de regressão da pena, pois é ela quem vai se apequenando enquanto o criminoso se alivia do castigo?           Para tais perguntas retóricas, já sabemos as respostas: o sistema de justiça no Brasil está mais interessado em demonstrar complacência para com os criminosos. A prioridade não é reparar os danos às vítimas e aos seus familiares, mas recuperar os malfeitores e devolvê-los o quanto antes ao convívio da sociedade – essa sim, o grande monstro que merece arcar com toda a culpa. Porém, com

Vida: ficção científica assustadora, sobre uma criatura alienígena batizada de Calvin

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Vida: filme dirigido por Daniel Espinosa PRIMEIRO VEM O DÉJÀ VU, MAS DEPOIS É O REALISMO QUE ASSUSTA Qual é o profissional mais importante durante a produção de um filme que mistura terror com ficção científica, onde astronautas confinados numa nave se deparam com uma criatura espacial predadora e indestrutível, determinada a eliminar um por um dos personagens com frieza monstruosa? O diretor? O roteirista? O diretor de fotografia? O diretor de efeitos especiais? O diretor de arte? Os atores? A resposta é simples: depois que Ridley Scott realizou Alien - O Oitavo Passageiro em 1979 e revolucionou o gênero seguindo esta mesma sinopse, todos os envolvidos numa produção similar precisam suar a camisa se quiserem conquistar a simpatia do espectador.           Assistindo ao filme Vida , dirigido em 2017 por Daniel Espinosa, ficamos com uma incômoda sensação de déjà vu, mas ela não nos impede de respirar uma atmosfera de suspense e tensão crescente e aproveitar ótimos momentos de susto. Aos

Um Bom Ano: comédia romântica de Ridley Scott

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Um Bom Ano: filme de Ridley Scott LONGE DO CINEMA INDUSTRIAL E PERTO DOS CLICHÊS DA COMÉDIA ROMÂNTICA Juntando a dupla Ridley Scott e Russel Crowe, logo pensamos no filme... Um Bom Ano ? Espere aí! Uma comédia romântica? Jura? Que surpresa! Essa produção de 2006 é um ponto fora da curva na parceria que diretor e ator estabeleceram em vários filmes de sucesso, como Gladiador , Robin Hood e O Gângaster .  Mas dessa vez o resultado desagradou a crítica – talvez prefiram seu nome ligado aos filmes contundentes, com mais ação e menos água com açúcar. Porém, uma coisa é fato: aqui ele acertou na leveza e no tom despreocupado. A história é simples, salpicada de clichês e tem final previsível. Mas pensando bem, não é exatamente isso que se espera de uma comédia romântica?           Um Bom Ano conta a história de Max Skinner (Russel Crowe), um lobo do mercado financeiro que vive em Londres, focado nos negócios. Quando recebe uma carta, avisando sobre a morte do seu tio Henry (Albert Finney),

A Lista de Schindler: salvos do holocausto por um nazista!

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A Lista de Schindler: filme de Steven Spielberg REALISMO E DRAMATIZAÇÃO NUM FILME TRISTE, MAS NECESSÁRIO Em A Lista de Schindler , filme de 1993 dirigido por Steven Spielberg, há muita energia emocional. Ela pulsa dentro e fora da tela. A história que ele nos conta chega em ondas sísmicas: ódio, horror, fé, injustiça, indiferença, compaixão, redenção... Quem imaginaria um nazista salvando judeus em pleno holocausto? Um Steven, o Spielberg, se envolveu de corpo e alma para realizar seu filme mais memorável. O outro, o Zaillian, adaptou um livro difícil e escreveu um roteiro mais difícil ainda, mas conseguiu dar credibilidade ao personagem de Oscar Schindler.           O filme é baseado no romance intitulado Schindler's Ark , escrito em 1982 pelo australiano Thomas Keneally. A partir do momento em que Steven Spielberg o leu, manifestando o interesse de adaptá-lo para as telas, o filme iniciou um longo calvário, permeado por dúvidas e incertezas. Não era um projeto com alcance comerci

007 - Operação Skyfall: o passado do personagem ganha significados

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007 - Operação Skyfall: dirigido por Sam Mendes UM THRILLER ÁGIL, COM UM JAMES BOND MAIS SÉRIO E MADURO Depois de muita perseguição e troca de tiros no topo de um trem em movimento, o agente secreto entra numa escavadeira que está sendo transportada, vale-se dela para se agarrar ao vagão da frente e salta, com movimentos surpreendentes e improváveis. A cena, de tirar o fôlego, alcança seu pico de tensão. Então, quando pousa feroz e determinado diante dos passageiros atônitos, ele ajeita a manga do paletó e tenta recompor a estampa. Esse gesto sutil, quase imperceptível, nos traz de volta para a realidade: sim, estamos diante de James Bond, um personagem que a cada filme se renova e nos mostra uma faceta diferente. 007 – Operação Skyfall , filme de 2012 dirigido por Sam Mendes talvez seja o melhor episódio da franquia.           A franquia já está em seu filme de número 25. 007 – Operação Skyfall é o 23º e segue a trilha de renovação iniciada com Casino Royale e 007 - Quantum of Solac

Gravidade: uma proeza tecnológica digna da NASA

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Gravidade: filme de Alfonso Cuarón MUITA TECNOLOGIA ENVOLVIDA, DENTRO E FORA DA TELA Na derradeira cena de Gravidade , produção de 2013 dirigida por Alfonso Cuarón, quando a astronauta Ryan Stone finalmente sente a textura da areia na praia, o movimento ritmado da água e o peso do próprio corpo, seria o melhor momento para... começar um novo filme! Um filme que, ao contrário desse, merecia acontecer no espaço interno da personagem, desvendando as inevitáveis transformações causadas pelo acidente de proporções estratosféricas pelo qual passou. Os realizadores não tiveram muito tempo para se preocupar com isso, já que estavam ocupados demais com toda a ação passada no espaço externo, ancorada nas habilidades da equipe de efeitos visuais.           Gravidade é um feito tecnológico. Alfonso Cuarón o escreveu em colaboração com o filho, Jonás a partir de uma ideia simples e objetiva: capturar com extremo realismo as reações e as emoções de um astronauta diante da mais cruel das adversidade

O Ilusionista: misturando drama de época com thriller de mistério

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O Ilusionista: filme dirigido por Neil Burger CINEMA E MAGIA ESTÃO JUNTOS HÁ TEMPOS, MAS AQUI SE CASARAM! Antes do cinema havia a... prestidigitação! Também havia o amor proibido pela diferença de classes, o alvoroço em torno da manifestação dos espíritos, as intrigas palacianas e as investigações policiais. Neil Burger juntou tudo isso em O Ilusionista , filme de 2006 estrelado por Edward Norton, Jessica Biel e Paul Giamatti. Partindo de um conto de Steven Millhauser, o diretor escreveu um roteiro recheado de mistérios e fez cinema inspirado no mundo da mágica.           Eis aqui um diretor que tem muitos truques na manga! Neil Burger realizou um filme de época, elegante e com certo charme nostálgico. Ao nos mostrar Edward Norton subindo ao palco para realizar proezas mágicas, ele remonta ao próprio nascimento do cinema. Com cenários e locações bem escolhidos, uma fotografia planejada para acentuar o tom de mistério e a música de Philip Glass, consegue mexer com nosso imaginário.     

O Dia Depois de Amanhã: a ladainha da catástrofe climática vira pura diversão

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O Dia Depois de Amanhã: filme de Roland Emmerich PERSONAGENS VEROSSÍMEIS, PREMISSAS POUCO CIENTÍFICAS Cá entre nós, acreditar que o mundo caminha na direção de uma catástrofe climática, decorrente do aquecimento global provocado pela atividade humana, é um exercício de pura arrogância do homo sapiens. Culpar o dióxido de carbono emitido pelos combustíveis fósseis – e também os gases ruminados pelas vacas que cultivamos em escala industrial – é uma desculpa fajuta, inventada por ideólogos mais interessados em praticar o controle social. A ciência só começou a monitorar a temperatura global a partir de meados do século XIX, há menos de dois séculos, portanto. Um piscar de olhos na turbulenta história climática do planeta, que já passou por incontáveis sobressaltos causados por fenômenos naturais mais poderosos do que qualquer bagunça que possamos causar – excetuando as explosões nucleares numa temida guerra apocalíptica!           Veja bem: não estou dizendo que não possam acontecer even

O Discurso do Rei: uma história verdadeira de superação

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O Discurso do Rei: filme de Tom Hooper UMA HISTÓRIA COM DNA DE RADIONOVELA, JEITO DE TEATRO E VOCAÇÃO PARA CINEMÃO O que pode haver de mais intimidador para um gago? Falar em público, ora! E se esse gago precisa se comunicar pelo rádio, meio onde a expressividade depende unicamente da voz, o desafio é ainda mais assustador. Agora, imagine que o tal gago seja um rei, às portas da Segunda Guerra Mundial, que precisa unir o povo em torno das decisões cruciais que está prestes a tomar. Pode haver pressão mais cruel? Essa história real de superação é contada em O Discurso do Rei , filme de 2010, dirigido por Tom Hooper, com roteiro de David Seidler e atuações de Colin Firth e Geoffrey Rush.           Quando Bertie – o rei George VI, pai da rainha Elizabeth II e avô do rei Carlos III – se viu obrigado a assumir o trono do Reino Unido, o rádio estava criando líderes por toda a Europa. Havia também os cinejornais, que anunciavam os feitos de grandes oradores, como Mussolini e Hitler, personage

O Nome da Rosa: a Idade Média em tom de mistério policial

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O Nome da Rosa: direção de Jean-Jacques Annaud PANORAMA SOMBRIO DA IDADE MÉDIA A literatura deixa o leitor viajar nas entrelinhas e se abre para várias interpretações. Esta possibilidade foi trabalhada com prazeroso empenho por Umberto Eco, filósofo da arte que difundiu o conceito de obra aberta e ganhou fama mundial como romancista no início dos anos 80. O Nome da Rosa , seu romance mais famoso, virou filme nas mãos do diretor Jean-Jacques Annaud em 1986 e deu ao ator Sean Cannery uma das melhores oportunidades em sua carreira de exibir o imenso carisma que irradia nas telas.           Acontece que, no cinema, uma história narrada em livro não consegue ser tão... aberta! A sétima arte nos entrega um pacote mais fechado, com imagens, vozes e atmosfera musical arquitetadas em minúcias e precisão. Os realizadores devem impor sua visão e, aquela que nos chega pelo filme O Nome da Rosa , forma um retrato sombrio da idade média na Europa – bem mais soturno que o apresentado no livro. Ainda

Minha Fama de Mau: o título de uma canção emblemática

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Minha Fama de Mau: filme de Lui Farias UM FILME LEVE, CRIATIVO E REPLETO DE CONTEÚDO Vivemos tempos esquisitos! As grandes estrelas pop que dominam o imaginário do público e infestam a mídia com sufocante onipresença são os... políticos! Nada contra a política. Ela é imprescindível para viabilizar a vida em sociedade. Mas tudo a favor de dar um tempo na lengalenga eleitoreira, cuspida por gente cujo único propósito é se apoderar do estado – essa máquina artificial que fingem ser tão vital quanto o ar que respiramos. Lembro de uma época em que podíamos fechar os ouvidos para o rosnado dos rabugentos e relaxar. Uma época quando o mundo era da comunicação de massa e havia uma diversidade de artistas, cantores, músicos, atores, diretores de cinema e promoters, todos empenhados em impulsionar uma fervilhante cena cultural. Os políticos ficavam em segundo plano, disputando as migalhas de visibilidade que sobravam.           É claro que também havia os patrulheiros de plantão, cuidando para q

A Última Fortaleza: história inspiradora sobre a natureza da liderança

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A última Fortaleza: filme dirigido por Rod Lurie O FINAL É PREVISÍVEL, MAS ISSO NÃO É DEMÉRITO! Liderança é qualidade que brota espontânea nas palavras e atitudes do prisioneiro Eugene R. Irwin, o tenente-general vivido por Robert Redford. Já para o diretor do presídio, o coronel Winter, interpretado por James Gandolfini, qualquer liderança que não seja a sua é erva daninha, que põe em risco sua autoridade e fere de morte o seu amor próprio. Em A Última Fortaleza , filme de 2001 dirigido por Rod Lurie, o embate entre os dois vira batalha campal, planejada como uma acirrada partida de xadrez, mas repleta de reviravoltas violentas.           A sinopse do filme é praticamente essa. Vale acrescentar apenas que o tenente-general Eugene R. Irwin chega à prisão militar de segurança máxima sentenciado a dez anos por ter desobedecido uma ordem presidencial. Mandou tropas para o Burundi, numa missão que fracassou e deixou um saldo de oito combatentes mortos. Seu desentendimento com o coro

Matrix: mix de filosofia, ficção científica e ação

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Matrix: filme estrelado por Keanu Reeves UMA SÍNTESE DE TODOS OS CONCEITOS DA FICÇÃO CIENTÍFICA Nos anos 80, Blade Runner chegou impondo um visual novo para os filmes de ficção científica – não quero falar em estética nova, porque naquele filme há muito das narrativas policiais e do cinema noir – e tornou-se paradigma do gênero. Na virada do século, foi a vez de Matrix repetir a dose. O filme de 1999, escrito e dirigido pelos irmãos Andy e Larry Wachowski – hoje Lilly e Lana Wachowski – abalou as estruturas dos filmes de ficção científica, com uma abordagem visual francamente extraída dos quadrinhos e potencializada pelos recursos digitais.           Apesar de ser esteticamente inovador, não se pode dizer que Matrix represente um novo conceito de ficção científica. Sua consistência como obra cinematográfica está no fato de que podemos enxergar nela um apanhado de tudo o que já foi consagrado no gênero, desde os seus primórdios. Partindo de uma ideia original, os realizadores consegu

Gladiador: imprecisões históricas e muita dramatização

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Gladiador: filme dirigido por Ridley Scott RIDLEY SCOTT SOUBE DEIXAR ESSA HISTÓRIA MAIS PALATÁVEL Os anglo-saxões sabem muito bem a diferença entre “history” e “story”. Já nós, falantes do português, temos a norma culta mandando usar apenas a palavra história, tanto para nos referir a uma peça de ficção como aos fatos históricos. No filme  Gladiador , dirigido em 2000 por Ridley Scott, essa mistura cai perfeita! Personagens inventados convivem com acontecimentos reais e criam um caldo denso, ótimo para entreter. Como resultado, desfrutamos de uma história emocionante e envolvente, que nos chega contada com a solenidade dedicada aos episódios cruciais da... história!           O fato é que nos anos 60 e 70, filmes de gladiadores eram parte de um filão bastante explorado pela indústria do cinema. Além dos incontáveis filmes B que eram depois exibidos na TV, tivemos os grandes clássicos do gênero, como Ben-Hur de Willian Wyler e Spartacus , de Stanley Kubrick. Ambos serviram de modelo pa

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