Gladiador: imprecisões históricas e muita dramatização

Cena do filme GladiadorGladiador: filme dirigido por Ridley Scott

RIDLEY SCOTT SOUBE DEIXAR ESSA HISTÓRIA MAIS PALATÁVEL

Os anglo-saxões sabem muito bem a diferença entre “history” e “story”. Já nós, falantes do português, temos a norma culta mandando usar apenas a palavra história, tanto para nos referir a uma peça de ficção como aos fatos históricos. No filme Gladiador, dirigido em 2000 por Ridley Scott, essa mistura cai perfeita! Personagens inventados convivem com acontecimentos reais e criam um caldo denso, ótimo para entreter. Como resultado, desfrutamos de uma história emocionante e envolvente, que nos chega contada com a solenidade dedicada aos episódios cruciais da... história!
        O fato é que nos anos 60 e 70, filmes de gladiadores eram parte de um filão bastante explorado pela indústria do cinema. Além dos incontáveis filmes B que eram depois exibidos na TV, tivemos os grandes clássicos do gênero, como Ben-Hur de Willian Wyler e Spartacus, de Stanley Kubrick. Ambos serviram de modelo para este Gladiador de 2000.
        O filme nos traz de volta ao ano 180 d.C, quando o general Maximus, vivido por Russel Crowe, conduz o exército de Marco Aurélio a mais uma vitória. O imperador o tem como um filho e deseja fazê-lo seu sucessor, mas Cómodo (Joaquin Phoenix), esse sim o filho legítimo, não permite que isso aconteça. Mata o pai, assume o poder e ordena a execução de Máximus, sua mulher e filho. O general sobrevive e termina como escravo, comprado por Proximus (Oliver Reed) para integrar suas fileiras de gladiadores. Depois de encantar as plateias com sua coragem, força e ferocidade, Maximus vai lutar no Coliseu, tendo um único objetivo em mente: encontrar o agora Imperador e matá-lo, para vingar a morte da família, que espera reencontrar na vida pós-túmulo.
        Ridley Scott planejava apresentar no filme Gladiador um panorama crível e realista da cultura romana na antiguidade, com uma imponência que jamais havia sido produzida pelo cinema. Contratou vários historiadores como consultores, mas logo esbarrou em problemas estruturais. Ele conta que antes de aceitar a direção do filme, os executivos do estúdio mostraram a ele um famoso quadro de Jean-Léon Gérôme, retratando um gladiador vitorioso num Coliseu majestoso. Foi quando teve o estalo criativo que definiu o conceito do filme. Só depois de aceitar o projeto é que foi ler o roteiro escrito por David Franzoni.
        Conforme o projeto foi se desenvolvendo, ficou clara a necessidade de alterações na trama. Russel Crowe, o ator com quem Ridley Scott mantinha uma ótima parceira criativa, achou o roteiro muito ruim e fez várias interferências nas linhas de diálogo. Os roteiristas John Logan e Willian Nicholson assumiram a escrita do roteiro, que foi sendo feita na medida em que o filme ia sendo produzido. Pesquisaram bastante, mas também se deliciaram com as licenças poéticas que puderam inventar, para deixar o filme mais palatável ao público.
        Depois de tanta luta, o filme Gladiador se tornou um sucesso retumbante. Levou cinco Óscares: melhor filme, melhor ator para Russel Crowe, melhor figurino, melhores efeitos visuais e melhor som. Quanto ao público, adorou a história, mas as pessoas saíram das salas de exibição dispostas a desvendar os acertos, os erros, os exageros e as imprecisões históricas cometidas em nome do bom entretenimento. Pelo menos todos concordaram num ponto: o Coliseu e a própria Roma nunca ficaram tão imponentes no cinema!

Resenha crítica do filme Gladiador

Data de produção: 2000
Direção: Ridley Scott
Roteiro: David Franzoni, John Logan e William Nicholson
Elenco: Russell Crowe, Joaquin Phoenix, Connie Nielsen, Oliver Reed, Richard Harris, Derek Jacobi, Djimon Hounsou, David Schofield, John Shrapnel, Tomas Arana, Ralf Möeller, Spencer Treat Clark, David Hemmings e Tommy Flanagan

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