A Mula: a idade não põe limites em Clint Eastwood

Cena do filme A Mula

A Mula: filme dirigido por Clint Eastwood

ATOR, DIRETOR E PERSONAGEM SE FUNDEM NESSE ÍCONE DO CINEMA

Um escritor, lidando com palavras e com a imaginação do leitor, pode incorporar qualquer protagonista e assumir sua voz. Pode se passar por um homem, uma mulher, criança, jovem, da terceira idade... Se for um contador de histórias experiente e talentoso, pode falar no lugar de qualquer um e ainda assim passar credibilidade. Já um ator e diretor de filmes autorais tem que encontrar uma história que lhe sirva. Tem que escolher um personagem que inspire autenticidade. Um artista como Clint Eastwood faz disso uma vantagem! Foi o que ele fez em A Mula, filme que dirigiu e estrelou em 2018.
        O roteirista Nick Schenk costurou uma trama sob medida para a estatura desse ícone da sétima arte, que nasceu em 1930 e continua na ativa. Seu roteiro foi baseado num artigo do New York Times escrito por Sam Dolnick, que contava como Leo Sharp, um veterano da Segunda Guerra Mundial, entrou para o tráfico de drogas aos 80 anos de idade, fazendo o papel de “mula” para um cartel. Nick Schenk precisou apenas de talento e imaginação para construir um personagem que pudesse ser incorporado por Clint Eastwood.
        Em A Mula, o idoso traficante virou Earl Stone, um vaidoso floricultor que foi à falência e se vê rejeitado pela família à qual jamais deu atenção. Enxerga sua idade avançada e seu histórico de bom motorista como oportunidades para levantar dinheiro, transportando drogas na surdina. Seu envolvimento com o cartel, aos poucos vai se intensificando, assim como as suspeitas da polícia, que vai fechando o cerco ao redor dele. Earl é mulherengo, moralmente flexível e tem a segurança de quem já não tem muito a perder. Mas está em busca de redenção e de alguma oportunidade para fazer a coisa certa.
        No seu roteiro, Nick Schenk também encontrou espaço para desenvolver o personagem do policial entrevistado pelo New York Times, que prendeu o traficante octogenário. No filme ele é vivido por Bradley Cooper e também carrega seus questionamentos morais e seus dramas familiares. É admirável como um simples artigo pode desencadear um enredo tão denso e envolvente. É a arte de contar histórias em sua melhor expressão.
        No filme A Mula, ator, diretor e personagem formam uma espécie de trindade santa, que enche a tela para simbolizar o próprio cinema americano. Clint Eastwood interpreta mais um protagonista criado à sua imagem e semelhança. Mas a história que ele nos conta nada tem de repetitiva. É original, envolvente, emocionante e transmite credibilidade.

Resenha crítica do filme A Mula

Data de produção: 2018
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Nick Schenk
Elenco: Clint Eastwood, Bradley Cooper, Laurence Fishburne, Michael Peña, Dianne Wiest e Andy García

Comentários

  1. Excelente crônica! Quem assistiu pode se lembrar. Quem sinda não viu vai ficar estimulado a ver. A cena no tribunal é o ápice de uma narrativa que corre sem nenhum atropelo, sem.nenhuma pressa. Da maneira que só quem viveu muito sabe como é.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado!! É mesmo um filme inspirador!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Confira também:

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Tempestade Infinita: drama real de resiliência e superação

Siga a Crônica de Cinema