Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Comédia Dramática

Não Olhe Para Cima: sátira política para os bons entendedores

Imagem
Não Olhe Para Cima: dirigido por Adam McKay SOBRAM FARPAS E CRÍTICAS PARA TODOS OS LADOS Pronto, o impacto midiático de Não Olhe Para Cima , filme de 2021 dirigido por Adam McKay, já passou. A onda de sucesso ressoou por vários dias – será que durou duas semanas? Seu estrondo se fez ouvir por todos os sites de entretenimento e feeds das redes sociais. Virou o assunto da hora. Todos tentaram tirar proveito do filme, garantindo audiência para seus comentários, críticas, análises, comparações... Quem tinha algo de inteligente a dizer, já o fez. Quem teve ideia para um meme, já postou. Quem precisava marcar território no campo ideológico, fincou sua bandeira. Agora, sobraram o vento e o silêncio. O sabor de novidade se diluiu no caldo morno da cultura popular e voltamos ao habitual estado de espera pela próxima sensação do momento.           Não Olhe Para Cima foi feito da mesma substância fugitiva que tentamos agarrar todos os dias nas telas dos nossos celulares, mas que insiste em escor

Loucos por Justiça: Mads Mikkelsen não está para brincadeiras

Imagem
Loucos Por Justiça: filme de Anders Thomas Jensen SALTANDO DE GÊNERO EM GÊNERO, SEM PERDER A VEROSSIMILHANÇA Close no militar embrutecido pelo estresse pós-traumático, tão calejado de guerra que só consegue enxergar o mundo pela perspectiva da violência. Transformado em máquina de guerra poderosa e incontrolável, sua razão de ser é causar dor nos inimigos incautos que cruzam seu caminho. Suas feições gélidas intimidam. Seu olhar não deixa entrever qualquer emoção. Suas expressões jamais se alteram. É... Não restam dúvidas, estamos diante de um personagem padrão nos filmes de ação hollywoodianos. Mas espere! Esse é um filme dinamarquês! E repare bem: a mente do tal militar não é um recipiente vazio de emoções! Elas fervilham em aflição e angústia. Escapam pelas microexpressões do ator! E que ator é esse? O Mads Mikkelsen, com a cabeça raspada e uma barba imensa! Ah, esse Loucos Por Justiça , filme de 2020 dirigido por Anders Thomas Jensen é mesmo de prender a atenção!           Uma únic

Tempos Modernos: até hoje, o ícone mais palpável da modernidade

Imagem
Tempos Modernos: filme de Charlie Chaplin A PANTOMIMA QUE RESISTE AO CINEMA FALADO Não há escapatória! Os profissionais da comunicação que criam para a internet, concebendo anúncios, postagens, vídeos e peças promocionais, precisam lançar mão de um recurso gráfico que se tornou obrigatório: o ícone. Esses signos, pequenas imagens que carregam extraordinário poder de síntese, valem por todas as palavras que não pronunciamos porque estamos sempre apressados. Decidiu qual produto comprar? Então clique no desenho do carrinho de supermercado. Quer mostrar seu apreço pela foto postada por um amigo? Então clique no desenho da mão gesticulando um positivo. Tudo muito intuitivo, rápido e fácil, como nos cabe nesses... tempos modernos!           Por óbvio que os ícones não são invenções dessa geração que agora está no comando. Remontam ao surgimento da própria escrita e são utilizadas desde sempre para representar variados conceitos. Não sei se Charlie Chaplin os tinha em mente quando criou seu

Druk - Mais uma Rodada: um filme... etílico!

Imagem
Druk - Mais uma Rodada: filme de Thomas Vinterberg BEBER É ARRISCADO, MAS PODE SER UMA JORNADA DE APRENDIZADO Apenas quatro dias depois de iniciar as filmagens de Druk - Mais uma Rodada , seu filme de 2020, o diretor Thomas Vinterberg recebeu uma ligação que o pôs devastado: tragicamente, sua filha Ida, de 19 anos, perdera a vida num acidente de carro. Ela estava escalada para interpretar a filha de um dos protagonistas e se mostrava empolgada com a produção, que abordaria o universo dos estudantes do ensino médio. Inclusive, várias cenas seriam filmadas na sala de aula que frequentava, com alguns de seus colegas como figurantes. Vinterberg, certo de que seria desejo da filha ver o filme concluído, encontrou forças para seguir em frente. Realizou um filme denso, complexo e tocante.           Começar a escrever sobre um filme partindo de circunstâncias trágicas, que não têm relação direta com seu enredo, pode ser arriscado. Pode criar um gatilho emocional que termine por contaminar a op

Feitiço do Tempo: um personagem na trilha do autoconhecimento

Imagem
Feitiço do Tempo: filme dirigido por Harold Ramis CADA UM APRENDE NO SEU TEMPO, MAS PHIL CONNORS TEVE TODO O TEMPO DO MUNDO No cinema, quem é o dono de uma história, afinal? O seu autor? O roteirista que a estruturou num discurso palatável para as audiências? O diretor que a concebeu visualmente, a envolveu na atmosfera adequada e lhe deu um ritmo apropriado? O detentor dos seus direitos de exibição? Há um sem número de pendengas jurídicas tribunais afora, na tentativa de encontrar respostas. Há também muitos descontentes que se consideram plagiados. O filme  Feitiço do Tempo , comédia dramática de 1993 dirigida por Harold Ramis, não escapou dessa polêmica. Mas para tocar nesse assunto, é preciso partir da sua sinopse.           O filme conta a história de Phil Connors (Bill Murray), um repórter do tempo presunçoso e arrogante. Alcançou o status de subcelebridade e já não se contenta com o pedestal onde subiu. Quer alcançar um mais alto. Antes, porém, terá que roer os ossos do ofício e

Django Livre: era escravo, mas virou pistoleiro implacável

Imagem
Django Livre: filme dirigido por Quentin Tarantino TARANTINO VAI DIRETO NA ESSÊNCIA DO WESTERN: A LIBERDADE! Digamos que você esteja escrevendo um roteiro e precisa tomar uma série de decisões envolvendo o protagonista. As escolhas e ações por ele empreendidas determinarão o desenrolar da trama. Porém, para transmitir credibilidade, você precisará alcançar a verdade interior do personagem. Precisará responder a uma pergunta essencial: qual é a sua principal motivação? O que de fato o move em sua jornada ao longo da história? Personagens complexos se alimentam de um composto de motivações. Personagens rasos, precisam de apenas uma obsessão e fazem o tipo mais comum entre aqueles que povoam os filmes de ação.           Pensando comercialmente, talvez você prefira definir a motivação mais óbvia e fácil de ser aceita e compreendida pelo grande público: a vingança! Qualquer criança sabe se colocar no lugar de quem anseia por desforra, principalmente se ela serve como reparação de uma injust

O Último Grande Herói: sátira inteligente dos filmes de ação, com toques de metalinguagem

Imagem
O Último Grande Herói: filme de John McTiernan UM COMPLETO E INESPERADO EXERCÍCIO DE METALINGUAGEM Minhas postagens na Crônica de Cinema são sempre aleatórias, resultado do meu humor e estado de espírito. É assim que garanto o caráter autoral do blog. Mas, de vez em quando, na hora de escolher um filme para comentar, esbarro numa boa sugestão dos amigos. Dessa vez, quando li o comentário da Jane Chiesse Zandonadi sobre o filme O Último Grande Herói , pensei: – Boa ideia! Eis aqui um filme que pode render uma boa conversa com os cinéfilos!           Para quem ainda não associou o nome à figura, o filme em questão é aquela comédia de ação de 1993 estrelada por Arnold Schwarzenegger e dirigida por John McTiernan, sobre o garoto que, de repente, se vê transportado para a realidade paralela dos filmes de ação. Tornou-se um estrondoso fracasso de bilheteria, causado por uma série de decisões equivocadas tomadas pelos marqueteiros do estúdio – foi lançado praticamente junto com Jurassic Park

Amarcord: as lembranças de Fellini e seus significados

Imagem
Amarcord: filme dirigido por Federico Fellini HUMOR, LIRISMO, NOSTALGIA E UMA ATMOSFERA ONÍRICA Só consegui assistir ao filme Amarcord , realizado em 1973 por Federico Fellini, no começo dos anos 1980. Foi pela televisão. Na época, apesar de já ser apresentado como um grande clássico, com relevância na história da sétima arte, o título ainda evocava um certo clima de safadeza, dada a sua temática sexual – eram tempos bem mais puritanos!           Amarcord é uma comédia dramática costurada a partir de um amontado de cenas e esquetes, que não estão presos a uma linha de tempo ou a uma trama estruturada. Não há uma história a ser seguida. Tudo o que temos são situações que lampejam como recordações da infância e da adolescência de Fellini, vividas em Rimini, sua cidade natal. Amor, sexualidade, vida familiar, religião, política, educação, cinema, causos... Tudo é contado com doses generosas de humor, lirismo, nostalgia e emoções verdadeiras.           O significado do título desperta c

A Vida é Bela: um humorista colhido pelo holocausto

Imagem
Direção: Roberto Benigni UM COMEDIANTE VIVENDO OS HORRORES DO HOLOCAUSTO Para uns, belo e poético, para outros, esquizofrênico e desrespeitoso. O fato é que o filme  A Vida é Bela , comédia dramática de 1997 dirigida por Roberto Benigni, brincou com um assunto sério e navegou num mar de polêmicas, mas terminou atracando nas docas do sucesso. Venceu o Grand Prix do Festival de Cannes em 1998 e faturou três Óscares: melhor filme estrangeiro, melhor ator e melhor trilha sonora – composta por Nicola Piovani. Escrito pelo próprio Benigni em parceria com o roteirista Vincenzo Cerami, o filme ainda suscita discussões acaloradas entre os cinéfilos.          O filme  A Vida é Bela se passa durante a Segunda Guerra Mundial, na cidade de Arezzo na região da Toscana. Guido Orefice, interpretado pelo próprio Benigni, é um judeu destrambelhado, que tenta ganhar a vida como garçom, mas sonha em abrir uma livraria. Conhece Dora, interpretada por Nicoletta Braschi – mulher de Benigni – com quem vive u

A Morte de Stalin: uma sátira sobre a disputa pelo poder

Imagem
A Morte de Stalin: filme dirigido por Armando Iannucci UMA COMÉDIA QUE EXALA HUMOR REFINADO E ELEGANTE Quando examinei a capa no serviço de streaming, fiquei em dúvida: que tipo de filme é esse? Um drama histórico? Uma cinebiografia? Precisei consultar o buscador na internet para entender que se trata de uma comédia, o que aumentou ainda mais minha relutância – sou exigente em relação às comédias e não é qualquer rompante de humor escrachado que me agrada. Porém, uma rápida olhada na ficha técnica do filme me convenceu de que A Morte de Stalin , realizado em 2017 por Armando Iannucci, merecia uma chance.           Em primeiro lugar, o diretor tem ótimas credenciais: o escocês tornou-se um expoente da comédia política entre o público americano, por meio da série Veep , que escreveu, produziu e dirigiu para a HBO. Em segundo lugar, o elenco reúne nomes de peso entre os americanos e britânicos. Foi o suficiente para deduzir que o filme poderia trazer boas doses de humor refina

Cães de Aluguel: o que há de novidade nesse Tarantino?

Imagem
Cães de Aluguel: filme dirigido por Quentin Tarantino O ESTILO TARANTINO DE FAZER CINEMA De quais substâncias é feita uma novidade? Originalidade? Ineditismo? Singularidade? Quando Quentin Tarantino escreveu e dirigiu Cães de Aluguel , em 1992, seu filme exalava novidade. Era diferente de qualquer outro já feito. Contava uma história brutal, mas o fazia com pitadas de humor, insinuando algo de improvisado e realizado com certo desleixo. Era uma obra que parecia não se levar a sério. Lembrava mais um mero fragmento do verdadeiro drama policial que tentava narrar.           Cães de Aluguel é um filme sobre um assalto bem-sucedido, realizado por um bando de homens que não se conhecem. Mas a ação, que nas mãos de um diretor convencional seria tratada como a cereja do bolo, foi solenemente ignorada por Tarantino. Ele prefere contar os fatos que acontecem após o assalto, quando se encontram em um galpão abandonado para dividir os diamantes roubados.           Mas onde, exatamente, está

O Garoto: sem som e sem cores, mas abarrotado de emoções

Imagem
O Garoto: filme dirigido por Charlie Chaplin UM SÉCULO INTEIRO EMOCIONANDO Há exatos cem anos, Charlie Chaplin rodava O Garoto , uma comédia dramática filmada em branco e preto e sem som, que se tornaria um dos seus maiores sucessos. Meus avós vivenciaram a explosão de criatividade que o cineasta provocou naqueles primórdios do cinema. Meus pais conheciam seus filmes e se divertiam com eles. Na minha geração, Chaplin era admirado e respeitado, mas sua obra já estava praticamente confinada na telinha da TV – o personagem que ele criou, no entanto, habitava os espaços gráficos dos pôsteres, dos anúncios, das capas de caderno, das camisetas... Estava mais vivo do que nunca.           Para a geração da minha filha e dos eventuais netos que já poderiam estar correndo pela casa – mas que pelo jeito ainda vão demorar para serem planejados – o nome Charlie Chaplin ainda tem significado. Consegue ser escutado na mídia, embora dispute espaço com bilhões de outras atrações. Como isso é possível?

O Terminal: filme estrelado por Tom Hanks

Imagem
O Terminal: filme dirigido por Steven Spielberg UMA GRANDE IDEIA QUE RECEBEU TRATAMENTO BUROCRÁTICO  A filmografia de Steven Spielberg é bastante eclética, mas para o grande público seu nome acabou ligado mais fortemente aos dramas e às aventuras. Suas incursões no gênero comédia resultaram em seus filmes menos memoráveis. O Terminal , que ele dirigiu em 2004 é um deles. Apesar de trazer uma ótima ideia como ponto de partida, recebeu um desenvolvimento superficial – talvez porque o diretor tenha decidido que o melhor para o filme seria ficar morando na... Sessão da Tarde!           O Terminal conta a história de Viktor Navorski, um sujeito do leste europeu ávido por conhecer Nova Iorque, que desembarca no aeroporto JKF sem saber falar uma palavra em inglês. Por uma inusitada reviravolta política, fica impedido de entrar na América. Também não pode voltar, porque seu país, convulsionado, foi dividido e deixou de existir. Com um passaporte que não tem serventia para os burocratas de pla

O Auto da Compadecida: vai além do significado de encenação popular e vira um grande filme

Imagem
O Auto da Compadecida: filme dirigido por Guel Arraes UM FILME COM FORTE SOTAQUE DE... TELEVISÃO Assim como Pier Paolo Pasolini se debruçou no começo dos anos 70 a traduzir para a linguagem do cinema as histórias medievais que Boccaccio imortalizou em Decamerão , Guel Arraes se entregou com prazer à tarefa de verter para o cinema três peças escritas por Ariano Suassuna e as condensou no seu filme O Auto da Compadecida . Realizou um inteligente exercício de cinema, que conseguiu ultrapassar os regionalismos e ganhar contornos universais – embora o trato com língua portuguesa ponha barreiras no mercado internacional, a trama e os personagens esboçados a partir de arquétipos podem ser facilmente reconhecidos em qualquer país católico.           A inspiração em Decamerão ficou explícita na fotografia e na direção de arte, onde as tonalidades ocres e arenosas imperam, encontrando os paralelos entre o interior da Paraíba dos anos 30 e a paisagem italiana do Século XIV. Mas é na narrativa ág

Birdman (Ou a Inesperada Virtude da Ignorância): motivos de sobra para assisir

Imagem
Birdman: filme dirigido por Alejandro Iñárritu UMA GRANDE OUSADIA DO CINEMA,  FILMADA EM UM ÚNICO PLANO-SEQUÊNCIA Uma postagem recente da Crônica de Cinema sobre o filme 1917 , dirigido por Sam Mendes, rendeu comentários provocativos de seguidores da página no Facebook. Dois deles, Emmanuel Martins Manu e Sonia Cardoso, ficaram intrigados em relação às técnicas de filmagem que possibilitaram a montagem de apenas dois longos planos-sequência. A sugestão foi a de que escrevesse sobre tal proeza. Embora não tenha credenciais para entrar nos meandros técnicos, decidi aceitar a provocação, mas levando o assunto para um terreno que me é mais familiar: os recursos narrativos.           Para elevar a técnica do plano-sequência ao estado da arte, Sam Mendes contou com um vultoso orçamento, além de profissionais especializados e equipamentos de ponta. Seu filme é um espetáculo visual, mas não foi realizado em “duas tacadas”, como somos levados a crer. Na verdade, há diversos planos-sequência col

Siga a Crônica de Cinema