Tubarão: o filme de 1975 que consagrou Steven Spielberg
Tubarão: filme dirigido por Steven Spielberg
MEDO E SUSPENSE, EM DUAS NOTAS QUE VALEM POR UMA SINFONIA
Uma cena bem escrita não precisa de muitas linhas de diálogo. Às vezes, basta um olhar do personagem para expressar o que lhe passa na cabeça. Para fazer com que o espectador entenda seus medos e calcule suas reações. A arte de contar histórias é sobre criar oportunidades para gerar empatia com o público. Elas são fabricadas durante a escrita do roteiro. Depois, os diretores e atores tiram delas o melhor proveito. Steven Spielberg fez isso de forma magistral ao longo de toda a sua extensa filmografia, mas no filme Tubarão, de 1975, quando contava apenas 26 anos, realizou uma grande proeza. Sua maior façanha não foi a de dar vida a um monstro assustador por meio de uma geringonça mecânica. Também não foi a de sincronizar o momento exato do suspense, com a ajuda do seu diretor musical John Willians. Foi a de colocar o espectador no lugar do Xerife e forçá-lo a imaginar o que faria se estivesse em seu lugar. Conseguiu isso com um roteiro primoroso, que passou por diversas mãos. Mas antes de falar disso, vale a pena lembrar a sinopse desse filme:
Tubarão se passa na ilha de Amity – um local fictício em algum ponto da região da Nova Inglaterra – onde um ataque de tubarão acende o alerta vermelho do chefe da polícia Martin Brody (Roy Scheider). Sua reação instintiva é a de interditar a praia, mas o prefeito Larry Vaughn (Murray Hamilton) bate o pé: a ilha vive do turismo de temporada e uma interdição causaria um rombo na economia. Quando novos ataques ocorrem e os turistas fogem desesperados, todos precisam se mobilizar. O xerife convoca o oceanógrafo Matt Hooper (Richard Dreyfuss) para investigar. A comunidade decide contratar o pescador Quint (Robert Shaw) para localizar e eliminar o monstro. A bordo de um pequeno pesqueiro, lá se vão os três, munidos de ousadia e coragem, tentar capturar o predador natural – tarefa que para eles tem contornos de vingança!
Essa história nasceu da imaginação de Peter Benchley, autor do livro Tubarão. Era tão boa que antes mesmo de publicá-la conseguiu vender seus diretos para a Universal e ainda ficou com a opção de escrever o primeiro tratamento do roteiro. Quando Spielberg ingressou no projeto, exigiu diversas alterações, especialmente na escrita dos dois primeiros atos. Queria caracterizar melhor os protagonistas e torná-los mais simpáticos para o público. Eliminou diversas subtramas, especialmente a que envolve o caso amoroso da mulher do xerife com o personagem vivido por Richard Dreyfuss – no livro, o xerife e o oceanógrafo são antagonistas! Depois dessas alterações, Spielberg chamou o roteirista Howard Sackler para uma intervenção não creditada. Pediu a ele que ampliasse o peso dramático dos três protagonistas e os tornasse mais empáticos. Outros roteiristas não creditados também puseram as mãos no texto, por causa do prazo apertado, que pressionava os produtores. Finalmente, o roteirista Carl Gottlieb – que também faz uma ponta no filme, no papel de um jornalista – trabalhou todas as linhas de diálogo durante as filmagens. As cenas rodadas num dia eram escritas por ele na noite anterior, sob a pressão dos prazos, mas soube extrair benefícios do clima de colaboração criativa que tomou conta do set de filmagem. As intervenções de Gottlieb foram tão importantes que seu nome foi o único a aparecer nos créditos, junto ao de Peter Benchley, autor do romance.
Uma das passagens mais memoráveis do roteiro de Tubarão envolve o monólogo do pescador Quint, interpretado por Robert Shaw, que narra a tragédia do naufrágio do USS Indianápolis e os ataques de tubarões aos sobreviventes. O conceito da cena foi criado pelo roteirista Howard Sackler, mas para escrever o monólogo, Spielberg convocou o roteirista John Milius. Seu texto ficou longo demais, mas Spielberg adorou. O que fez, então? Encarregou o próprio ator Robert Shaw de reescrever o monólogo. Ele cortou o texto pela metade. Sim, caro cinéfilo! Além de bom ator, Shaw era um renomado escritor, autor de romances premiados e peças de teatro.
Como resultado de um intenso trabalho colaborativo, o imenso tubarão branco atacando banhistas incautos tornou-se um marco para os filmes de suspense. Muitos dos seus truques narrativos foram usados à exaustão em outras produções do gênero. Os espectadores que deixavam as salas de cinema, levavam a experiência de ter enfrentado um tubarão real junto com Roy Scheider, Richard Dreyfuss e Robert Shaw. Era um monstro assustador, feroz e imprevisível – ainda que mero produto cênico criado por engenheiros mecânicos.
Como resultado de um intenso trabalho colaborativo, o imenso tubarão branco atacando banhistas incautos tornou-se um marco para os filmes de suspense. Muitos dos seus truques narrativos foram usados à exaustão em outras produções do gênero. Os espectadores que deixavam as salas de cinema, levavam a experiência de ter enfrentado um tubarão real junto com Roy Scheider, Richard Dreyfuss e Robert Shaw. Era um monstro assustador, feroz e imprevisível – ainda que mero produto cênico criado por engenheiros mecânicos.
A marcante trilha sonora de Tubarão rendeu o Óscar para John Willians e ficou eternizada na mente do público. Bastam duas notas repetidas com insistência para deixar o espectador arrepiado, à espera do predador que se aproxima – efeito à altura daquele que Beethoven conseguiu em sua quinta sinfonia, ao retratar a morte a bater na sua porta. Isso é cinema de verdade!
Resenha crítica do filme Tubarão
Ano de produção: 1975
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Peter Benchley e Carl Gottlieb
Elenco: Roy Scheider, Robert Shaw, Richard Dreyfuss, Lorraine Gary e Murray Hamilton
Por tratar-se de um gênero que não me atrai, nunca assisti o filme. Agora me vem você com este texto tão atraente e atiça minha curiosidade. Verei o filme, mas aposto que sua resenha é melhor.
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