Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida

Cena do filme Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida
Indiana Jones: filme de Steven Spielberg

UM GRANDE ROTEIRO, QUE MISTURA DOSES EXATAS DE AÇÃO E EXPOSIÇÃO

Há 40 anos, em 1981, fui ao cinema num domingo à tarde em busca de distração. Em cartaz, Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida, uma produção lançada com pompa e estrondo, referendada por duas grifes populares: Steven Spielberg e Harrison Ford, o primeiro na direção e o segundo exibindo seu carisma na frente das câmeras. Terminado o filme, não tive dúvidas: permaneci na poltrona para acompanhar a sessão seguinte. Tinha que examinar aquela avalanche de cinema com mais cuidado.
        Aventura, fantasia, mistério e muita ação desenfreada, numa história envolvente, protagonizada por um herói infalível e capaz das proezas mais improváveis. Foi um lançamento arrebatador! Mas falar do sucesso de Indiana Jones é desnecessário. Prefiro lembrar aqui do impacto que senti ao ser apresentado pela primeira vez ao personagem. Você também deve se lembrar da cena: no meio da selva um grupo de homens segue por uma trilha, liderados por um homem que não conseguimos ver por inteiro, pois está coberto pelas sombras. Ele examina um mapa velho e rasgado. Em dado momento, um sujeito mal-encarado aparece furtivo, saca sua arma e a engatilha. Isso basta para que o homem se vire, pegue um chicote e desarme o bandido com um único golpe certeiro. O homem continua imerso nas sombras, mas dá dois ou três passos em direção à câmera e então vermos seu rosto iluminado por uma réstia de sol: é... Harrison Ford!
        Ele é Harrison Ford por um brevíssimo intervalo de tempo – um único segundo, talvez. Depois disso vira Indiana Jones. E depois dessa cena, já sabemos quem é o personagem, do que ele é capaz e por quais motivos devemos torcer por ele. A empatia entre o protagonista e o espectador fica estabelecida de imediato, graças ao jogo criativo entre o diretor, o ator e o roteirista! E tudo isso sem que uma palavra sequer seja pronunciada. É a magia do cinema em ação!
        Por mera formalidade, vamos a uma sinopse: em 1936, Indiana Jones (Harison Ford) é um aventureiro que nas horas vagas trabalha como arqueólogo e professor universitário – ou será o contrário? Convocado por oficiais do exército, ele precisa ajudá-los a encontrar a Arca da Aliança, um artefato religioso com supostos poderes divinos, no qual os nazistas estão loucos para pôr as mãos. Ele contará com a ajuda de Marion Ravenwood (Karen Allen), mas terá que enfrentar René Belloq (Paul Freeman), o arqueólogo rival que trabalha pára os nazis.
        Observe, caro leitor, que essa curtíssima sinopse apenas fornece um vislumbre da trama. Há muitas informações que o espectador precisa assimilar para acompanhar a história. Hoje todo mundo sabe o que vem a ser a tal Arca da Aliança, mas em 1981 o tema não era popular. As pessoas entravam no cinema pensando se tratar da Arca de Noé! Além disso, quem é esse tal de Indiana Jones? Por que ele é o homem certo para a caçada? Por que tanta pressa em encontrar a arca? O que acontecerá se os nazistas chegarem na frente? Por que precisam do medalhão que está em poder de Marion? O que é o tal Bastão de Rá?
        Faço tais perguntas para mostrar que em Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida não temos apenas ação desenfreada, numa sucessão de cenas entupidas de efeitos especiais. Temos uma grande quantidade de cenas expositivas, que tomam boa parte da narrativa. Elas são difíceis de ser escritas, porque quase sempre resultam em longas linhas de diálogo e se tronam enfadonhas – como nos filmes em que o vilão, antes de matar o mocinho encurralado, perde tempo precioso desfiando um rosário de explicações sobre a trama e se distrai, ficando vulnerável. Não vemos isso em Indiana Jones, por um motivo muito simples: o roteiro foi escrito com brilhantismo por Lawrence Kasdan.
        Espertamente o roteirista concentrou a exposição em pouquíssimas cenas, principalmente no começo do filme, deixando espaço para que Spielberg se divertisse com suas peripécias cinematográficas. Lawrence Kasdan é um dos grandes roteiristas de Hollywood, e depois do brilhante trabalho em Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida, escreveu Guerra nas Estrelas: O Despertar da Força, O Império Contra-Ataca, O Retorno do Jedi, O Guarda-costas, Corpos Ardentes, e muitos outros.
        O personagem Indiana Jones nasceu primeiro na mente de George Lucas, que concebeu as linhas gerais de um certo Indiana Smith e convocou o roteirista Philip Kaufman para desenvolver a ideia. Mais tarde Spielberg substituiu o Smith por Jones e entregou a escrita nas mãos de Lawrence Kasdan, que produziu cinco rascunhos antes do tratamento final. Indiana Jones é resultado de um primoroso trabalho de equipe, que tem lugar cativo na cultura pop. Por muitos anos ainda, avós e pais continuarão apresentando o filme para as novas gerações, aproveitando para desfrutar de ótimos momentos de diversão familiar.

Resenha crítica do filme Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida

Ano de produção: 1981
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Lawrence Kasdan
Elenco: Harrison Ford, Karen Allen, Paul Freeman, Ronald Lacey, John Rhys-Davies e Denholm Elliott

Comentários

  1. Somente o primeiro tem a leveza e a mágica da nostalgia dos antigos seriados que Spielberg homenageou.
    Os seguintes, mera fórmula de sucesso que garantiu lucros imensos aos produtores.
    Sem nada a acrescentar mais.

    ResponderExcluir
  2. Me identifiquei muito com seu ótimo texto. Também fui assistir a Os Caçadores da Arca Perdida sem saber do que se tratava. Na verdade, pensei que fosse um faroeste. Mas, exatamente como você descreveu, antes mesmo da pedra rolar atrás do personagem,véu já havia captado a essência do filme e entendido que estava diante de algo único. Um marco do cinema. Parabéns pelo belo texto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah, Julio, muito obrigado! O cinema é sempre uma ótima fonte de inspiração. Abraços!

      Excluir

Postar um comentário

Confira também:

Tempestade Infinita: drama real de resiliência e superação

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Siga a Crônica de Cinema