Jurassic Park - Parque dos Dinossauros

Cena do filme Jurassic Park
Jurassic Park: direção de Steven Spielberg

ANTES DE TUDO, UMA FAÇANHA NARRATIVA!

Desde que a palavra "dinosauria" foi inventada pelo cientista britânico Richard Owen, em 1842, os lagartos terríveis que dominaram a Terra há milhões de anos voltaram à vida no imaginário popular. O cinema, valendo-se de toscas animações em stop motion, onde bonecos são fotografados quadro a quadro para simular movimento, tratou de materializá-los em sua gigantesca monstruosidade. Mas foi em Jurassic Park - Parque dos Dinossauros, filme de 1993 dirigido por Steven Spielberg, que eles ressuscitaram, numa façanha ousada e lucrativa, que entrou para a história da sétima arte.
        Há exatos 30 anos, cinéfilos do mundo todo se deliciaram com imagens de um realismo inédito, geradas por meio da computação gráfica. Tal técnica revolucionária acabou ganhando relevância aos olhos da plateia, a ponto de se tornar, ela mesma, uma presença marcante no filme. A partir dali não haveria limites para a ousadia dos cineastas, que poderiam tornar reais as suas mais insanas criações. É bem verdade que o primeiro filme a lançar mão do que ficaria conhecido como GCI foi O Enigma da Pirâmide, dirigido em 1985 por Barry Levinson – a cena em que um cavaleiro medieval estampado num vitral ganha vida e salta para lutar com o protagonista foi lindamente executada. Mas o primeiro a usá-la comercialmente em larga escala foi mesmo Jurassic Park.
        Comparadas às imagens que o cinema de hoje esbanja com ímpeto perdulário, aquelas apresentadas por Spielberg e seus parceiros da Industrial Light & Magic em 1993 se parecem com... fósseis. Mas não perderam o encanto. São eloquentes, dramáticas e ainda capazes de transmitir pavor legítimo. E o motivo é simples: Jurassic Park é uma obra de notáveis qualidades narrativas, estruturada a partir de uma ideia poderosa, que põe em movimento uma história emocionalmente verossímil e muito bem costurada. Antes de continuar, é melhor relembrar a sinopse:
        O filme conta a história do paleontólogo Alan Grant (Sam Neill) e da paleobotânica Ellie Sattler (Laura Dern), que são convocados por John Hammond (Richard Attenborough) para inspecionar o inusitado parque temático que construiu na Ilha Nublar. Lá eles se juntam ao matemático Ian Malcolm (Jeff Goldblum) e aos netos de Hammond, Tim (Joseph Mazzello) e Lex Murphy (Ariana Richards), para descobrir que o improvável aconteceu: os cientistas conseguiram clonar dinossauros a partir do DNA extraído de amostras fossilizadas em âmbar. Os animais ressuscitados agora serão exibidos como atração principal de um imenso zoológico a céu aberto. Entretanto, para entrar em funcionamento, as instalações precisam ser inspecionadas por especialistas, tarefa que caberá ao trio de cientistas convidados. Mas isso não será fácil. A ganância e a imprudência de alguns sabotadores colocarão os dinossauros à solta e as feras saberão exercer com fúria predadora a sua vantagem de estar no topo da cadeia alimentar.
        A ideia de Jurassic Park nasceu na cabeça do prolífico escritor de best-sellers John Michael Crichton – ele também dirigiu o filme de ficção científica Westworld - Onde Ninguém Tem Alma, realizado em 1973. Inicialmente Crichton concebeu um roteiro sobre um jovem estudante de pós-graduação, que consegue clonar um único dinossauro a partir de restos de fósseis, mas o conceito não funcionou. Quando Crichton revisitou a ideia de criar um parque temático a história deslanchou. Para protagonizá-la, concebeu personagens convincentes, que interagem com crianças postas em perigo pela imprudência dos adultos, mas que conseguem protegê-las graças a uma série de atos heroicos. Nessa trama de aventura, ação e suspense, os dinossauros são tratados como forças da natureza e não como monstruosidades malignas. Para criar o personagem do Doutor Alan Grant, o autor se inspirou no renomado paleontologista Jack Horner, que acabou atuando como consultor do filme. Foram dez anos de trabalho e muita pesquisa, para gestar um romance de 400 páginas, onde mais da metade delas está recheada com ciência de verdade – embora as façanhas tecnológicas ali descritas ainda sejam impraticáveis.
        Quando Michael Crichton falou a Steven Spielberg sobre seu romance, os olhos do diretor brilharam, mas os dos produtores e executivos da Universal Studios brilharam ainda mais! Spielberg precisou adiar seu projeto de filmar A Lista de Schindler para atender a esta, que se tornou uma prioridade comercial. Precisavam aproveitar a mania crescente sobre dinossauros, que estava conquistando o grande público no mundo todo. Para roteirizar Jurassic Park, Spielberg convocou o experiente David Koepp, que trabalhou sobre um roteiro inicial preparado pelo próprio Michael Crichton.
        O roteiro final, que acabou sendo filmado, nasceu da interação entre Koepp e Spielberg. O diretor entrou com sua notável capacidade de se colocar como um cinéfilo apaixonado, sentado na plateia à espera de diversão, enquanto o roteirista adicionou notas de humor e ironia, além da sua capacidade de estabelecer um retrato acabado de cada personagem a partir de linhas de diálogo precisas e objetivas. É claro que o arco do protagonista Alan Grant, que apesar de não suportar o convívio das crianças acaba criando fortes laços com elas, recebeu maior atenção.
        As cenas expositivas, necessárias para pôr o expectador a par dos meandros científicos da história, também foram habilmente concebidas, colocando os personagens para interagir com uma simpática apresentação em desenho animado. A maior habilidade que Koepp demonstrou em seu roteiro, no entanto, foi a de sustentar o clima de suspense. Na medida em que vai apresentando os personagens um a um, ele deixa no ar a pergunta incômoda: quais deles, afinal, serão devorados pelos dinossauros? É para descobrir a resposta que esperamos ansiosos até os créditos finais.
        Apesar de ter um enredo empolgante, contado em um roteiro consistente, Spielberg sabia que o filme só funcionaria se pudesse surpreender o espectador com os mais verossímeis dinossauros já vistos. Trabalhou duro e conseguiu resultados impressionantes. Jurassic Park rendeu diversas sequências e importantes dividendos comerciais. Custou 64 milhões de dólares e consumiu outros 65 milhões em gastos com publicidade, mas arrecadou naquele ano 914 milhões de dólares em todo o mundo, tornando-se o filme de maior bilheteria da história – até ser desbancado em 1997 por Titanic. Mas isso já é outra história!

Resenha crítica do filme Jurassic Park - Parque dos Dinossauros

Ano de produção: 1993
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Michael Crichton e David Koepp
Elenco: Sam Neill, Laura Dern, Jeff Goldblum, Richard Attenborough, Ariana Richards, Joseph Mazzello, Wayne Knight, Bob Peck, Martin Ferrero, Samuel L. Jackson, B.D. Wong, Cameron Thor e Gerald R. Molen

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