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Mostrando postagens com o rótulo Drama

A Testemunha: filme de 1985 continua emocionante

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A Testemunha: filme dirigido por Peter Weir QUANTAS CENAS MEMORÁVEIS PODEM SER INCLUÍDAS NUM FILME? QUANTAS COUBEREM! Não espere profundidade psicológica dos personagens nem densidade dramática no roteiro. O filme A Testemunha , de 1985, é um drama policial para consumo ligeiro, mas muito saboroso. Esse sabor adicional se deve ao talento e ao empenho de Peter Weir, o diretor que chegou a Hollywood para impor seu jeito de fazer cinema. Consagrado como um dos principais nomes da New Wave australiana, enxergou na história do detetive que se esconde numa comunidade Amish, fugindo de tiras corruptos, uma oportunidade para criar cenas memoráveis, realizadas com sensibilidade e bom gosto. Vamos à sinopse:           A Testemunha conta a história de John Book (Harrison Ford), o policial encarregado de uma investigação de assassinato numa estação de trem da Filadélfia, que esbarra numa testemunha ocular: Samuel (Lukas Haas), um garoto de oito anos que viaja com a mãe, Rachael (Kelly McGillis),

A Onda: baseado em fatos que um dia podem ser reais!

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A Onda: filme dirigido por Roar Uthaug CINEMA NORUEGUÊS MANIPULA CLICHÊS E ACABA NUMA GRANDE CATÁSTROFE Cineastas costumam ser fisgados pela sétima arte logo na infância. A possibilidade de criar realidades alternativas, iludir com efeitos especiais e dar asas à imaginação, confere um tom lúdico à criação cinematográfica, sugerindo que tudo não passa de pura diversão. Aqueles com habilidades narrativas logo encontram o caminho da profissão, o que não os impede de continuar se divertindo muito ao longo do processo. Esse parece ser o caso do diretor norueguês Roar Uthaug. Seu filme A Onda , realizado em 2015, é um autêntico exemplar do cinema catástrofe, que mistura ação, tensão e destruição, numa fórmula que esperamos encontrar nos melhores parques de diversões. Tem efeitos visuais dignos de Hollywood, mas vem também com uma forte personalidade nórdica.           Fã declarado dos filmes de terror e de catástrofe, Roar Uthaug embarca aqui num gênero consagrado, que lida com conceitos já

Cidadão Kane: por que ele é tão importante, afinal?

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Cidadão Kane: filme dirigido por Orson Welles COM ELE, HOLLYWOOD CONSOLIDOU SEU PROCESSO DE FAZER FILMES Cidadão Kane é um filme antigo, sem a velocidade e a fúria das produções modernas, mas merece ser visitado. Os críticos dizem que é o melhor filme de todos os tempos. Mas a final, por que ele é tão importante? Foi realizado há mais de 80 anos, é todo em preto-e-branco, repleto de cenas demoradas e ainda por cima traz diálogos intermináveis! Por que muitos críticos o consideram o melhor filme já produzido até hoje? Bem, para descobrir, é preciso examinar a obra. Cidadão Kane conta a história de Charles Foster Kane, milionário dono de uma cadeia de jornais. O personagem foi construído à imagem e semelhança do magnata William Randolph Hearst e interpretado pelo próprio Orson Welles. Garoto pobre, que se tornou um dos homens mais ricos do mundo, q uando morre passa a ocupar as manchetes dos jornais. Jerry Thompson (William Alland) é o jornalista encarregado de desvendar a vida do ma

À Procura da Felicidade: história real vivida por Chris Gardner

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À Procura da Felicidade: filme de Gabrielle Muccino O TRIUNFO DO INDIVÍDUO SOBRE AS FORÇAS QUE TENTAN ARRASTÁ-LO PARA O REBANHO Acompanhando o título original em inglês, penso que em português esse filme poderia se chamar À Procura da Filicidade – escrito com “i” ao invés de “e”. É assim, com a grafia errada, que Chris Gardner encontra a palavra desenhada numa parede da escola do filho, quando vai buscá-lo depois de um dia difícil. Ele percebe o erro e se dá conta de que o desleixo com o que é correto, por menor que seja, só leva à corrosão dos valores mais caros ao ser humano. Então ele segue na retidão. Come o pão que o diabo amassou, mas insiste no único bem que possui: a capacidade de lutar honestamente enquanto tiver forças.           Porém, Chris Gardner chega ao fundo poço! Vendedor talentoso e hábil com números, investiu tudo o que tinha numa falsa oportunidade. Perdeu tudo! Sem fonte de renda e sem lugar para morar, perambula com o filho em estado de indigência. O filme  À Pr

O Silêncio dos Inocentes: um psiquiatra culto, refinado, sedutor e... canibal

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O Silêncio dos Inocentes: filme dirigido por Jonathan Demme UM DOS FILMES MAIS EMBLEMÁTICOS DOS ANOS 1990 Nos grandes filmes, as forças narrativas devem estar equilibradas: metade áudio, metade visual. O cineasta precisa ter refinamento artístico e domínio da expressão gráfica, para capturar os planos certos, posicionar a câmera na distância necessária e lidar com a luz  – ou a ausência dela. Porém, se esquecer do universo sonoro, jamais conseguirá criar a atmosfera adequada para conduzir as emoções do espectador. Em Hollywood, um dos cineastas que reunia qualificações nas duas áreas era Jonathan Demme – além de comédias dramáticas ele filmou vários espetáculos musicais. Seu filme de 1991, O Silêncio dos Inocentes , acabou se tornando um dos mais emblemáticos daquela década.           Quando se fala em O Silêncio dos Inocentes , o primeiro nome que vem à mente é Hannibal Lecter, mas o de Clarice Starling tem que ser pronunciado imediatamente na sequência. Thomas Harris criou ambos os p

Hair: uma renovação importante na arte dos musicais

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Hair: filme dirigido por Milos Forman ANUNCIANDO A POTÊNCIA ARTÍSTICA E MUSICAL DA ERA DE AQUÁRIO Um bando de hippies praticando paz e amor, enquanto festejam o hedonismo, bradam contra a guerra, repudiam o conservadorismo e pregam a contracultura. Parece antiquado e datado? Nas mãos de Miloš Forman, não! Em Hair , filme de 1979, ele faz uma adaptação para o cinema de um musical de sucesso na Broadway e extrai dele uma enorme potência artística e musical. O roteiro de Michael Weller cria um enredo e direciona o fluxo dramático da cantoria, trabalhando os personagens com mais detalhes.           Apenas privilegiados tiveram a oportunidade de assistir ao musical Hair , escrito por James Rado e Gerome Ragni, que estreou na Broadway em 1968. Mas qualquer um de nós tem acesso ao filme. Sua adaptação para o cinema não se limitou ao registro das canções marcantes e inesquecíveis, ou do peculiar visual da tribo hippie. O diretor soube desenvolver os personagens e criou uma trama envolvente. Se

15h17: Trem Para Paris: um história real

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15h17: Trem Para Paris: filme de Clint Eastwood PESSOAS, PERSONAGENS, ATORES... TODOS MISTURADOS NA MESMA DRAMATIZAÇÃO Imagine que você está envolvido em uma reconstituição policial: depois de ouvir as testemunhas, colher os depoimentos dos criminosos e estabelecer as ações que afetaram as vítimas, procura encenar os fatos de acordo com as diferentes versões. Coloca todos de volta na cena do crime e revive os acontecimentos na presença de peritos e autoridades, com o objetivo é descartar as versões improváveis e ficar com a única que, de acordo com as evidências, reflete a verdade. Você não está interessado em expressar significados ou extrair relevância artística da encenação – muito embora isso seja inerente a qualquer interação entre seres humanos. Tudo o que você quer é realizar um procedimento burocrático.           Eis aqui um modelo narrativo ao qual o grande público jamais tem acesso – fica restrito às esferas judiciais e se traz alguma função estética, apenas os advogados, juí

Tempo de Matar: uma história onde o racismo interfere nos julgamentos

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Tempo de Matar: filme de Joel Schumacher CINEMA DENUNCIANDO PRECONCEITO RACIAL, DILEMAS MORAIS E LABIRINTOS JURÍDICOS  O escritor John Grisham ficou famoso por seus romances de tribunal. Já vendeu mais de 300 milhões de exemplares ao redor do mundo e se tornou o número um no segmento dos thrillers de tribunal. Nove dos seus romances foram adaptados para o cinema, mas o primeiro que escreveu – em 1989, apenas três anos depois de se formar advogado – foi Tempo de Matar , que chegou às telas em 1996 dirigido por Joel Schumacher. O autor já havia visto três dos seus títulos virarem filme: A Firma , O Dossiê Pelicano e O Cliente , mas dessa vez decidiu interferir mais diretamente na adaptação. Envolveu-se como produtor, convocou Joel Schumacher para a direção e tratou de impor a concepção de filme que havia imaginado quando concebeu a história.           Tempo de Matar traz uma história bem costurada. Jake Tyler Brigance (Matthew McConaughey) é um advogado trabalhando no estado do Mississ

O Impossível: a história real da família de María Belón

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O Impossível: filme de Juan Antonio Bayona REALISMO NÃO BASTA, É PRECISO EXTRAIR EMOÇÃO Quando a costa da Tailândia foi arrasada por um tsunami, no Natal de 2004, as imagens da destruição entulharam nossas televisões e inundaram de tristeza as comemorações de final de ano em todo o mundo. Foram mais de 230 mil vítimas fatais e uma quantidade inimaginável de feridos – física e emocionalmente. As narrativas do desastre ocuparam espaço em toda a mídia, sempre numa abordagem jornalística. Reportagens, mesmo as que elevam o tom para entrar na disputa pela audiência, costumam priorizar o conteúdo informativo, mostrando respeito para com os que sofreram perdas. Mas o cinema, com sua vocação para a dramatização, está mais interessado na emoção, na dor, no sofrimento... Quando decidi assistir ao filme O Impossível , dirigido em 2012 pelo espanhol Juan Antonio Bayona, tive receio de tropeçar em mais uma produção apelativa do gênero catástrofe, recheada de efeitos especiais realistas, planejados

Se7en - Os Sete Crimes Capitais: um filme forte com final surpreendente

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Seven- Os Sete Crimes Capitais: filme de David Fincher UM THRILLER ONDE AS VÍTIMAS SÃO PECADORES E OS POLICIAIS, ATORMENTADOS Quando um velho à beira da aposentadoria reclama da decadência moral que se abateu sobre a sociedade, os mais jovens tendem a pensar que se trata apenas disso mesmo: da velhice que se abraça com a rabugice, para implicar com os novos comportamentos que a modernidade vai moldando. O erro de quem acusa é a generalização – a decadência moral é real, mas desde sempre acontece em nichos. O erro dos que se defendem é o desdém – abrem mão de certas regras de conduta para tolerar um novo comportamento, só porque ele é... novo.           Agora, quando um jovem reclama da decadência moral, aí já é outra história! O jovem a quem me refiro é Andrew Kevin Walker, o roteirista que escreveu Se7en: Os Sete Crimes Capitais , filme de 1995 dirigido por David Fincher. Trata-se de um dos melhores thrillers policiais dos anos 90, que chegou aos cinemas trazendo um clima de mistério

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

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Menina de Ouro: filme de Clint Eastwood QUEM FORNECE MATÉRIA-PRIMA PARA OS BONS DIRETORES? A VIDA! Em termos numéricos, o mundo do boxe é para poucos. O mundo do boxe feminino, então, é para muito poucos. Agora, pense num filme que visita esse mundo árido e flagra seus habitantes nos momentos de maior solidão, desilusão, sofrimento e tristeza. Isso afugenta o público e limita ainda mais o tamanho da audiência. Entretanto, Menina de Ouro , filme de 2004 dirigido por Clint Eastwood, conseguiu o improvável: conquistou prêmios, saiu-se bem nas bilheterias e acabou se tornando um dos melhores filmes do diretor. O motivo? É uma história fictícia, mas verossímil, com sólidos elementos dramáticos e muito bem focada nos seus personagens.           O tema principal de Menina de Ouro é a busca por uma segunda chance na vida. É sobre como as pessoas se agarram às oportunidades de um novo recomeço, mas não estão preparadas para as desilusões, ainda que elas sejam prováveis. Todos os personagens se

O Homem Elefante: um drama tocante, que grita uma mensagem humanista

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O Homem Elefante: filme dirigido por David Lynch REVIRANDO SENTIMENTOS VERDADEIROS E TRANSFORMADORES Para ilustrar minha crônica sobre O Homem Elefante , filme de 1980 dirigido por David Lynch, passei um bom tempo buscando uma foto promocional na internet. Encontrei várias. A maioria exibindo o ator John Hurt, oculto atrás da máscara usada para caracterizar as horríveis deformidades que condenaram seu personagem a uma vida de dor e sofrimento. São imagens de uma tristeza gigantesca, de cortar o coração. Logo percebi que tais imagens chocantes nada tinham de promocionais. Ao contrário, serviriam para afugentar os leitores mais sensíveis. Então escolhi usar uma foto onde John Merrick está oculto por um capuz desengonçado – na verdade, um saco de estopa com um único furo, para o coitado poder olhar por onde anda!           De repente, diante da minha escolha, percebi que estava vivendo o mesmo drama experimentado pelos realizadores do filme. A imagem que escolhi era a mesma utilizada em t

O Segredo dos Seus Olhos: estrelado por Ricardo Darin

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O Segredo dos Seus Olhos: filme de Juan Jiosé Campanella QUANTO MAIS BEM GUARDADOS OS SEGREDOS, MAIOR A NOSSA CURIOSIDADE Um crime sem solução, um inquérito em aberto e motivos de sobra para querer ver a justiça sendo feita. Dito assim, é fácil classificar O Segredo Dos Seus Olhos , dirigido em 2010 por Juan José Campanella e estrelado por Ricardo Darín, como um filme de mistério policial. A verdade é que essa produção argentina vencedora do Óscar de melhor filme estrangeiro em 2010 vai muito além. Nos conta uma história envolvente, salpicada de momentos de tensão, pitadas de humor e uma certa atmosfera romântica.           Lembro de ter festejado muito esse Óscar. Não apenas por se tratar de um filme argentino – puxando a brasa para o nosso cantinho sul-americano – mas por trazer uma história muito bem roteirizada, dirigida e interpretada. É cinema de encher os olhos! Porém, tudo o que enxergamos é controlado com mão firme pelo diretor. Ele é habilidoso em nos conduzir entre o passado

O Regresso: sobrevivendo para se vingar

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O Regresso: filme dirigido por Alejandro G. Iñárritu VINGANÇA NÃO É SENTIMENTO NOBRE, MAS VIROU O ÚNICO MOTIVO PARA SOBREVIVER Com quais perigos um aventureiro explorador pode se deparar numa terra isolada e inóspita? Índios cruéis? Ursos ferozes? O frio inclemente? Para Hugh Glass o pior foi a perversidade daqueles que o deixaram para morrer. Já para seus inimigos, o pior mesmo foi a sede de vingança que provocaram naquele homem agarrado à teimosia, que já não tinha mais nada a perder. Essa história, contada no filme O Regresso , realizado em 2015 por Alejandro G. Iñárritu, aconteceu de verdade e foi narrada primeiro no romance homônimo escrito em 2002 por Michael Punke. Mas até que virasse filme, muita água límpida precisou correr pela paisagem gélida que serviram de locação.           A sinopse de O Regresso é bastante simples: Hugh Glass (Leonardo DiCaprio), é um caçador de ursos trabalhando para a Companhia de Peles Montanhas Rochosas. Em 1823 ele e seu filho Hawk (Forrest Goodlu

Ponte dos Espiões: fatos verdadeiros que esquentaram a guerra fria

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A Ponto dos Espiões: filme de Steven Spielberg QUANDO UM CIDADÃO COMUM TEM QUE LIMPAR A LAMBANÇA DO APARATO ESTATAL A expressão “Guerra Fria” surgiu logo após a Segunda Guerra Mundial, cunhada nos bastidores da política americana, para indicar que, dali em diante, a luta contra os comunistas soviéticos não se daria mais nos campos de batalha, mas nos territórios da política, da propaganda e da espionagem. Porém, o clima dessa disputa foi ficando cada vez mais quente, com lances potencialmente desastrosos, jogados no tabuleiro internacional. No filme  Ponte dos Espiões , dirigido em 2015 por Steven Spielberg, somos apresentados a um personagem esquecido, que atuou sem alarde, mas fez a diferença num dos momentos mais tensos da guerra fria.           Trata-se do advogado especializado em seguros James B. Donovan, que se envolveu na mais importante troca de espiões entre russos e americanos realizada em 1962. Mas antes de falar sobre ele, quero falar sobre o homem que o tirou do ostracism

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