Contatos Imediatos do Terceiro Grau: Spielberg seguiu a classificação dos ufólogos

Cena do filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau
Contatos Imediatos do Terceiro Grau: filme dirigido por Steven Spielberg

UM FILME QUE PERMANECE EM PERFEITO ESTADO DE FUNCIONAMENTO

Há filmes que envelhecem com dignidade. O visual denuncia a data de nascimento, mas o conteúdo é de um frescor empolgante. Incluo nessa categoria Contatos Imediatos do Terceiro Grau, realizado em 1977 por Steven Spielberg. Quem já assistiu ao filme, experimente lembrar das cenas iniciais – quem ainda não viu, pode conferi-las na cópia remasterizada lançada recentemente. São imagens que comprovam o imenso talento do diretor como contador de histórias: primeiro, vemos surgir de uma tempestade de areia no deserto de Sonora, uma esquadrilha inteira de caças da Segunda Guerra Mundial em perfeito estado de conservação, com seus pilotos que aparentam não ter envelhecido um único dia nos últimos 30 e poucos anos. Depois, vemos controladores de tráfego aéreo numa sala entulhada de equipamentos, desconcertados com o registro de um fenômeno não identificado que quase provoca uma colisão entre aeronaves. Mistério, mistério e mistério! É assim que Spielberg nos provoca, atiça nossa curiosidade, mexe com a nossa imaginação. Nos captura!
        O filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau continua em perfeito estado de funcionamento. A temática pode ter perdido o charme, mas a história envolvente criada por Steven Spielberg ainda parece crível. Será que no dia em que a humanidade finalmente entrar em contato com vida extraterrestre inteligente, os fatos se darão como ele imaginou? Mas espere, esse filme é de 1977! Foi realizado há 45 anos! Será que esses fatos já não aconteceram secretamente? Ah, essa é a beleza do cinema: consegue ser especulativo e instigante, enquanto lida com verossimilhança sem precisar se prender ao verdadeiro. Consegue embaralhar o tempo dramático com o tempo real, contando uma história que até pouco tempo era ficção científica, mas que pode deixar de ser de uma hora para outra.
        O filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau relata uma série de acontecimentos bizarros envolvendo abduções e ressurgimento de abduzidos. À frente das investigações, o cientista francês Claude Lacombe (François Truffaut) corre o mundo em busca de informações. Quando as encontra, elas são espetaculares. Mas outros indivíduos também pressentem que algo extraordinário está para acontecer. Roy Neary (Richard Dreyfuss), técnico de uma companhia de eletricidade é um deles. Ele se junta a Jillian Guiler (Melinda Dillon), uma mãe desesperada para descobrir o paradeiro do seu filho Barry (Cary Guffey) que foi levado por óvnis e partem para enfrentar os homens do governo empenhados em manter tudo em segredo. As ocorrências inexplicáveis se intensificam e as artimanhas das autoridades alimentam teorias da conspiração, enquanto nós, os espectadores curiosos, ficamos com a certeza de que, a qualquer momento, testemunharemos os tais contatos imediatos.
        Spielberg planejava realizar seu filme de ficção científica desde 1973. Teve a ideia de fazer um documentário, ou um longa-metragem de baixo orçamento, contando histórias de gente que acreditava na existência de óvnis. O título seria Watch the Skies. Já naquele ano contratou o roteirista Paul Schrader, mas ficou decepcionado quando recebeu o primeiro tratamento – anos mais tarde Schrader encontraria a redenção como roteirista, acertando a mão ao escrever Taxi Driver. Outros roteiristas foram sendo contratados ao longo dos anos para reescrever o material: John Hill, David Giler, Hal Barwood, Matthew Robbins... Acabou que o próprio Spielberg sentou-se à máquina de escrever e redigiu o roteiro final do seu filme, agora batizado de Contatos Imediatos do Terceiro Grau.
        O nome foi cunhado pelo astrônomo e ufólogo Josef Allen Hynek, que prestou consultoria para Spielberg. Em seu livro The UFO Experience: A Scientific Enquiry, publicado em 1972 o pesquisador propôs um sistema de classificação para os eventos em que pessoas avistam óvnis. Começa com o Contato Imediato de Zero Grau, quando o objeto é avistado a grandes distâncias. Os eventos vão ficando mais próximos, até que no de Terceiro Grau, já é possível ver os tripulantes. Mas não pára por aí! Ainda tem os de Quarto e Quinto Graus! Ao adotar esse conceito, Spielberg trouxe uma aura de racionalidade científica para o seu filme e passou credibilidade para o grande público.
        Para o filme 
Contatos Imediatos do Terceiro Grau, Spielberg trouxe outro elemento importante: talento! Douglass Trumbull, que foi supervisor de efeitos visuais em 2001 – Uma Odisseia no Espaço, John Williams, o grande compositor que acabaria assinando a trilha sonora de vários de seus filmes, o diretor de fotografia Vilmos Zsigmond, o editor Michael Kahn... Contatos Imediatos do Terceiro Grau é um feito técnico notável, resultado do trabalho de uma equipe afinada e consagrada na indústria do cinema. A filmografia de Spielberg é composta por inúmeros títulos de sucesso, mas esse filme, em especial, é impressionante! Se o diretor tivesse realizado apenas esse único filme, já teria sido uma grande façanha. Ouso compará-la à de Orson Welles, quando irradiou Guerra dos Mundos pelo rádio. Tem a força de uma obra documental, mas é só uma boa história bem contada!

Resenha crítica do filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau

Ano de produção: 1977
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Steven Spielberg
Elenco: Richard Dreyfuss, François Truffaut, Melinda Dillon, Teri Garr, Bob Balaban e Cary Guffey

Comentários

  1. Já visitado por aqui
    Um dos filmes da Minha adolescência... 1979
    A vingança do físico banido do projeto livro azul da aeronáutica yankee. Ele sabe tudo, foi o consultor técnico como também o personagem de Dreyffus é o seu alter ego.
    Naquele momento, uma Produção realista, diferente quanto revolucionária na forma e conteúdo no olhar sobre esse "mistério" que tanto é explorado no sensacionalismo e por isso desacreditado.
    No planeta dos macacos, o clássico de 1968, tem uma mensagem sutil do que o poder faz e porque para esconder de sua civilização e sociedade verdades perigosas...
    Os bons sempre merecem ser revisitados, mas são poucos.

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  2. Um filme inesquecível mesmo e que pode ter histórias reais semelhantes por aí. Lembro sempre de uma frase de uma personagem de Jodie Foster, que acreditava em extraterrestres: "se não houver vida em outro planeta, o universo é um grande desperdício."
    Adorei a crítica, Fabio. Me deu até vontade de ver de novo. Vou ver!

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    Respostas
    1. Sim, o tema é instigante, Cecilia. Parece haver um consenso entre os cientistas de que a existência de seres inteligentes em outras paragens do universo é líquida e certa. O problema é fazer contato com eles! É preciso percorrer distâncias tão impossíveis que ainda é improvável que sejamos visitados. Ainda bem que temos o cinema para dar vazão às nossas especulações.

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